Linguagem e trabalho docente: aportes teóricos, procedimentos metodológicos e dispositivos analíticos
SANDOVAL NONATO GOMES-SANTOS (USP)
O trabalho docente entre o linguístico e o didático Com base em uma concepção de escola como “forma híbrida” (v. TARDIF, LESSARD, 2005), este trabalho propõe descrever e analisar os aspectos textuais e os funcionamentos didáticos do trabalho do professor em diferentes episódios de ensino da língua portuguesa. O trabalho docente aparece, nessa direção, como categoria central para a compreensão dos modos com que a linguagem medeia a interação entre professor e aluno nos processos de ensino e aprendizagem da língua portuguesa, tendo em vista a crescente complexificação do espaço escolar em sociedades altamente letradas como a brasileira. Do ponto de vista teórico e metodológico, o trabalho busca promover o encontro da teoria do texto com a teoria do ensino e da aprendizagem: a primeira fornece dispositivos analíticos centrais na caracterização da materialidade lingüística da troca didática; a teoria do ensino e da aprendizagem fornece, por sua vez, aqueles que subsidiam a interpretação dos efeitos das determinações didáticas na interação em sala de aula e nos textos que nela circulam ou ali são produzidos. A discussão dos modos com que a materialidade textual e a economia didática do trabalho docente se constituem pode subsidiar a reflexão sobre o funcionamento da linguagem na prática escolar, saber de que parece não poderem prescindir as instâncias institucionais da formação docente inicial e contínua e da política pública de incremento da educação. Segundo Quadros e Karnopp (2004:48), as línguas de sinais, conforme apontam as mais recentes pesquisas, possuem os mesmos princípios subjacentes de construção que as línguas orais. Ambas possuem um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, isto é, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos. Isso comprova que a LIBRAS é uma língua e não apenas um conjunto de gestos ou mímica.Entretanto, ainda que a LIBRAS e a Língua Portuguesa possuam os mesmos princípios de construção, as duas línguas são organizadas de maneira bastante distinta e tal distinção tem como reflexo alguns problemas na organização discursiva dos textos escritos em Português pelos alunos surdos. É com base nas distinções existentes entre a LIBRAS e a Língua Portuguesa que deve ser criada uma metodologia de ensino do Português para os surdos. A partir da análise de textos produzidos por alunos surdos, nosso objetivo, nesse rabalho, é o de identificar de que maneira as estratégias de referenciação que há na LIBRAS influenciam na produção de textos escritos em Português pelos surdos. Além disso, pretendemos traçar estratégias de ensino de Português como segunda língua, levando em conta a estrutura própria da LIBRAS e as possíveis comparações desta com a organização discursiva do Português.
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