27/12/2010

Retrospectiva do ano de 2010

Data Local / Atividades
14/01 Reunião na casa da Profª. Rita Bentes. Divisão do grupo em frentes de trabalho: estudos, publicação, alimentação do blog, definição de textos para leitura e tradução.
15/01 Participação no evento Diálogos Interdisciplinares "Tróia: discutindo a construção do mito", promovido pelo Audiovisual, projeto de extensão do Campus Universitário de Bragança/UFPA.
17/01 Reunião na casa da Profa. Helena Leitura-estudo do artigo de Adair Bonini: “A noção de sequência textual na análise pragmático-textual” de Jean-Michel Adam
25/01 Reunião na casa da Profa. Débora. Estudo do texto “A perspectiva discursivo-semiótica” de Gunther Kress: “O gênero como recurso representacional” de Anna Elizabeth Balloco. Primeira discussão sobre a institucionalização do GELPEA.
01/04 Reunião na casa da Profª. Helena. Decisão de participar e organizar o II EBELLI, em Bragança.
21/04 Reunião na casa da Profª. Helena. Estudo do segundo capítulo de Marxismo e filosofia da linguagem, de Bakhtin.
08/05 Reunião na casa da Profa. Patrícia. Simulação de roda de conversa do tema "Gêneros do discurso, formação de professores e ensino".
06/06 Reunião na casa da Profa. Helena. Estudo o primeiro capítulo de Marxismo e Filosofia da linguagem
13/06 Reunião na casa da Profa. Rita Bentes. Realização de duas rodas de conversas, com os dois subtemas do EBELLI: Gêneros do discurso, formação de professores e ensino e Interação social e diversidade cultural, tendo como comentadora a professora Sueli.
15 a 17/07 Participação no II EBELLI - Rodas de conversas Bragantinianas. Bragança-PA.
04/08 Defesa da tese de José Anchieta de Oliveira Bentes, intitulada “Formas do trabalho docente em duas escolas especiais de surdos: estudos históricos e de representações sociais”.
12 a 14/08 Participação no II Fórum de estudos da linguagem do curso de especialização em Língua Portuguesa: uma abordagem textual. UFPA Belém. Comunicações:
- “A prática de linguagem no trabalho docente: do contexto ao texto” Rita de Nazareth SOUZA-BENTES e Maria do P. Socorro Dias PASTANA;
- “O Ensino de Gêneros discursivos e a Formação de professores” Isabel Cristina França dos Santos RODRIGUES.
21/08 Reunião na casa da Profa. Helena. Leitura e discussão da introdução do livro “Para uma filosofia do ato responsável".
8 a 10/09 Participação no II Fórum Internacional de Análise do discurso, na UFRJ. Comunicação coordenada: “Linguagem e trabalho docente: aportes teóricos, procedimentos metodológicos e dispositivos analíticos” – coordenador: Prof. Dr. Sandoval Nonato GOMES-SANTOS.
- “O trabalho docente entre o lingüístico e o didático” Sandoval Nonato GOMES-SANTOS;
- “Trabalho docente e escrita na alfabetização” Patrícia Sousa ALMEIDA;
- “O trabalho docente na educação de surdos” José Anchieta de O. BENTES;
- “Práticas de professores aposentados” Isabel Cristina França dos Santos RODRIGUES. Comunicações individuais:
- “Práticas de linguagem e formas do trabalho docente” Rita de Nazareth SOUZA-BENTES;
- “Por que é tão difícil fazer do oral objeto de ensino?” Maria Helena Rodrigues CHAVES.
18/09 Reunião na casa da Profa. Jane. Estudo sobre “Por uma filosofia do ato responsável” e Decisão pela participação no Fórum da Unama e I SELLI - I Seminário de Línguas e Literaturas: Tessituras, Interações e Convergências (Castanhal-PA).
29 a 30/09 Participação no IX Seminário de metodologia de ensino de Língua Portuguesa da FEUSP. São Paulo-SP. Linguagens e culturas: ensino de língua e formação do professor. Apresentação de trabalhos:
- “Saberes mobilizados no trabalho docente: construção da coerência na produção escrita de alunos na escola” Rita de Nazareth SOUZA-BENTES e Maria do P. Socorro Dias PASTANA;
- “Operação mutante: entre as práticas tradicionais de ensino e as tecnologias de interação modernas” Maria Helena Rodrigues CHAVES.
02/10 Reunião na casa da Profa. Sueli Pinheiro.
26/10 Participação no I Seminário de línguas e literaturas: tessituras, interações e convergências, no campus universitário de Castanhal-PA. Sessão de comunicação coordenada "Interação em sala de aula: instrumentos didáticos na aula de português".
- Apropriação do gênero carta de leitor: uma abordagem textual-enunciativa Maria do Perpétuo Socorro Dias PASTANA;
- “Adolescentes e jovens com deficiência múltipla: com quais instrumentos didáticos é possível trabalhar?” José Anchieta de Oliveira BENTES;
- “Na interação com tecnologias modernas, as práticas docentes tradicionais em constante processo de sedimentação” Maria Helena Rodrigues CHAVES;
- “Dimensão formativa da sequência didática: contribuição para o ensino/aprendizagem da língua materna” Rita de Cássia Macedo LEAL;
- “O trabalho docente no ensino de português: da interação didática aos saberes e instrumentos mobilizados” Rita de Nazareth SOUZA-BENTES.
27/10 Participação no XVI Fórum de Letras da UNAMA. Belém-PA. Sessão coordenada:
- “Práticas discursivas em sala de aula” - Sueli Pinheiro da SILVA;
- “Perguntas e respostas numa interação em ambiente escolar - Maria da Conceição AZEVÊDO;
- “Intertextualidade nas produções de alunos da 5ª série do ensino fundamental” - Isabel Cristina França dos Santos RODRIGUES;
- "Alguns aspectos multissemióticos na construção da exposição oral" - Jane M. ALVES;
- "Trabalho docente na escola – Usina: modos de didatização de objetos gramaticais" - Débora Cristina do Nascimento FERREIRA.
30/10 Reunião na casa da Socorro Pastana - estudo de “Para uma filosofia do ato responsável”.
03 e 04/11 Participação no IV Congresso Brasileiro de Educação Especial (CBEE) - São Carlos-SP. Comunicações:
- “A educação especial no Pará a partir das representações de seus atores sociais” José Anchieta de Oliveira BENTES;
- “Os alunos surdos e suas línguas: abordagens textuais e discursivas” José Anchieta de Oliveira BENTES.
6/11 Participação no III Fórum de tecnologia assistiva e inclusão social da pessoa deficiente. Belém-PA. Comunicação:
- “Avaliação de alunos na sala de recurso multifuncional: discussões em torno da normalidade” José Anchieta de Oliveira BENTES, Rita de Nazareth SOUZA-BENTES.
20/11 Reunião na UEPA. Estudo de “Para uma filosofia do ato responsável”.
25/11 Participação no INTERLETRAS UEPA. Coordenação: Profa. Sueli Pinheiro.
- “Vozes diferenciadoras da relação teoria-prática na formação do professor de Língua Portuguesa da UEPA” Suzanny Pinto Silva;
- “Educação especial e inclusiva: representações de professores sobre suas práticas no ensino de Língua Portuguesa” José Anchieta de Oliveira Bentes.
29/11 Defesa da dissertação de mestrado de Rita de Cassia Macedo Leal, no laboratório de linguagem da UFPA. Título: “Sequência didática e avaliação formativa: contribuição para o ensino/aprendizagem em língua materna”.
10/11 Institucionalização do GELPEA no CNPQ
08/12 Reunião casa da Profa. Rita Bentes. Escolha da logomarca do GELPEA.
19/12 Confraternização na Estação das Docas.

24/12/2010

Agradecimentos

Um pedacinho do GELPEA para cada um de vocês...
Queremos deixar os agradecimentos pela nossa convivência durante este ano e a esperança que em 2011 possamos colher bastante frutos oriundos de nossas parcerias.
Feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações para o nosso grupo, nossas famílias e todos que fazem nossos dias e noites serem tão importantes.

18/12/2010

O novo Plano Nacional de Educação (PNE)

Está em discussão o projeto de lei do novo Plano Nacional de Educação (PNE) que irá vigorar na próxima década.
Algumas das principais metas do novo plano decenal:


a) valorização e formação dos profissionais do magistério. Todos os sistemas de ensino devem elaborar planos de carreira no prazo de dois anos. Todos os professores da educação básica tenham nível superior e metade deles formação continuada com pós-graduação - com a previsão de licenças para qualificação.
b) rendimento médio do profissional da educação não inferior ao dos demais trabalhadores com escolaridade equivalente.
c) universalização da pré-escola até 2016.
d) 50% das crianças de até 3 anos devem ter acesso à creche até 2020.
e) 33% dos jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior.
f) taxa de matrícula deverá atingir 50% até 2020.
g) titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores.
h) todas as crianças devem ser alfabetizadas até os 8 anos de idade.
i) erradicação do analfabetismo na população com mais de 15 anos do até o fim da década
j) educação em tempo integral deverá ser oferecida em 50% das escolas públicas.
k) crescimento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Até 2021 o país deverá atingir média 6 em uma escala de 0 a 10.
Elaborado a partir de: http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2010/12/15/plano-nacional-de-educacao-tem-20-metas-20-sao-ligadas-valorizacao-do-professor-923294045.asp

15/12/2010

Participação na III Conferência Municipal de Educação

Os professores José Anchieta e Rita Bentes estão participando da III Conferência Municipal de Educação, promovida pela SEMEC, nos dias 14 e 15. No dia 14, o evento ocorreu na Faculdade Ideal e hoje no dia 15  a plenária será na UEPA - Educação Física. O objetivo do evento é definir o Plano Municipal de Educação – PME para os próximos 10 anos.
Os grupos de discussão ocorreram no dia 14 e foram os seguintes: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio/Profissionalizante, Educação Superior, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Relações Étnico-Raciais, Educação Ribeirinha, Ensino Religioso, Gestão e Avaliação da Educação, Financiamento da Educação, Formação e Valorização dos Profissionais e Trabalhadores da Educação. Participamos no grupo Educação Especial.

09/12/2010

Inscrições abertas para o III Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Fonte: http://www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=4316
Começou o período de inscrição de trabalhos para as sessões temáticas do III Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários da Amazônia (Ciella), que será realizado em abril de 2011 na Universidade Federal do Pará (UFPA). Os interessados em submeter suas produções acadêmicas ao evento devem enviá-las, por e-mail, até o dia 30 de dezembro.
O tema geral da terceira edição do Congresso é "Línguas e Literaturas: Diversidade e Adversidades na América Latina", o qual está subdividido em doze subtemas. Entre esses, seis são direcionados para a área de Estudos Literários e Culturais:
1) História do livro e das práticas de leitura;
2) Literatura, diferenças culturais e relações de poder;
3) Epistemologia, história e crítica literária;
4) Literatura e tradição orais;
5) Relações literárias latino-americanas: unidade e diversidade;
6) Literatura e outras artes.
Os outros seis subtemas oferecidos são voltados para a área de Estudos Linguísticos:
7) Plurilinguismo e línguas em contato;
8) Descrição linguística, tipologia e universais;
9) Tecnologia(s) e estudos de línguas;
10) Gêneros discursivos, oralidade e escrita;
11) Língua, Sociedade e Identidade;
12) Línguas, linguagem e apropriação linguageira.
Ciella – O III Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários da Amazônia, evento bienal, está sendo organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPA, linha de pesquisa que engloba as áreas de Linguística e Estudos Literários. O Congresso será realizado no período de 18 a 20 de abril de 2011. O público-alvo do evento é formado por estudantes do ensino médio, de graduação e pós-graduação, por professores e pesquisadores locais, nacionais e internacionais e por profissionais de áreas afins.
Serviço:
Abertas as inscrições de trabalhos para o CIELLA
Período: até 30 de dezembro de 2010. Enviar os trabalhos para 3ciella@gmail.com
Informações: http://www.3ciella.ufpa.br/index.php / (91) 3201-7499/ 3201-8018

08/12/2010

Memorial descritivo da logomarca vitoriosa

Memorial Descritivo da Logomarca produzida pelo grupo de trabalho: Pedro Paulo Cardoso, Larissa Buenaño, Adriana Silveira, Andrea Souza e Camila Tavares.
Alunos/as do curso de Design da UEPA. Turma 9DGPN9
Trabalho realizado na disciplina Língua Portuguesa aplicado ao design
Professora: Rita Bentes

Memorial Descritivo

O logotipo em questão utilizou a vitória régia, apontada pelos membros do grupo como símbolo, para compor a letra G. A forma radial do vegetal, na logo representada pelos riscos, caracteriza a ideia de teia apresentada no briefing, visto que os raios convergem para um ponto em comum, no caso, a flor. A letra L (Linguagem, na sigla) foi destacada para representar a flor da vitória régia como ponto de convergência dos raios, assim representando a metáfora da linguagem como produto de estudos conjuntos. A cor verde (PANTONE 362 C), que predomina na logo, foi escolhida por simbolizar o regionalismo e ser a cor original da vitória régia. A cor rosa (PANTONE 674 C) foi escolhida por ser característica de grande parte das flores de vitória régia, além de compor uma relação harmônica com o verde. A proposta foi escolhida por seguir as tendências minimalistas da produção atual de marcas, sendo, assim, de fácil aplicação em diferentes meios.

Os logotipos que entraram em discussão


Proposta 1


  
Proposta 2

Proposta 3

A proposta vitóriosa foi a 3.

Reunião do GELPEA dia 08/12/2010

Presentes: Bernadete, Sueli, Patrícia, Jane, Elmira, Suzanny, Rita Leal, Rita Bentes, Simone, Débora, Anchieta, Socorro Pastana, Eunice.


Neste dia almoçamos juntos, regados a uma boa discussão e tomadas de decisão.
A pauta foi a seguinte:
1) Apresentação e escolha da logomarca do GELPEA
A professora Rita Bentes apresentou as cinco propostas de logomarca, produzidos pelos alunos do curso de Designer da UEPA.
2) Apresentação do projeto da professora Débora Ferreira
3) Discussão sobre a fusão dos grupos
4) Avaliação da participação no Interletras e CIELA.
5) Discussão dos artigos para o livro “Linguagem e trabalho docente”.


Decisões:
1) Ocorreu a escolha do Logotipo do GELPEA a partir de três finalistas. A proposta vencedora obteve 7 votos.
2) Participação no CIELA com duas mesas coordenadas.
3) Título da coordenada: “Docência: da formação inicial as práticas de sala de aula”.
4) Cada pessoa ou dupla fará resumo até dia 22/12 para compor as duas coordenadas. Integrantes: i) Socorro Pastana. Ii) Rita Leal e Rita Bentes. iii) Eunice. iv) Suzanny. v) Jane. vi) Sueli. vii) Anchieta. viii) Patrícia e Berna. ix) Simone.
5) adiar a fusão do GELPEA com o grupo Letramento, estudos lingüísticos, ensino e formação de professores de Língua Portuguesa.
6) Próxima reunião: 12//02//2011 na escola Astério de Campos - Souza. Pauta: i) Exposição da prof. Bernadete Lima “Correio escolar: escrever, aprender e comunicar”; ii) Exposições sobre o ato ético; iii) informes e encaminhamentos.
7) Confraternização do GELPEA: dia 20. Local Estação das Docas.

06/12/2010

Convite reunião 8/12/2010

Próximo encontro do GELPEA: quarta-feira 08/12/2010 - pela manhã - 9 horas – casa da Rita Bentes. É provável que almocemos juntos.



Pauta:
1) Apresentação e escolha da logomarca do GELPEA
2) Discussão sobre a fusão dos grupos
3) Avaliação da participação no Interletras e outros eventos.
4) Discussão dos artigos para o livro.
5) Estudo - Para uma filosofia do ato responsável (p. 64 a 74).
Contamos com a participação de tod@s.

27/11/2010

Um dia nos anos oitenta

Manhã, cedo
abrem-se janelas de sol
feixes de luz pelas frestas
na garganta da casa

Meio dia
de cada panela um cheiro
cada cheiro, um sabor
onde o dissabor?


Noite
constante a serra
pesada hora
o ritmo se fazendo coisa
ecoando pelos vãos dos longos quintais

ritmo do trabalho Sabará
mãos na massa marceneiro
nesta manhã que agora passa
neste trabalho sorrateiro

dona das horas dona Maria
viver já é graça
cada filho que nascia comadre
nova ressurreição da mãe

por isso, dizia a nega Julia Antonia
é preciso
re-inventar os campos de espera
pois sem memória caro Buñuel
não existe amor


Sandoval Nonato Gomes-Santos
(manhã de sábado de primavera, final de Novembro em São Paulo, 2010).

25/11/2010

Mesa-redonda do Interletras 2010 (II)

Vozes diferenciadoras da relação teoria-prática na formação do professor de Língua Portuguesa da UEPA
Profa. Ms. Suzanny Pinto Silva
Professora de Língua Portuguesa da UEPA e SEDUC.
Mestra em Educação pela UEPA
Resumo

A formação de professores de Língua Portuguesa no contexto da interiorização da Universidade do Estado do Pará (UEPA) tem se revelado um profícuo espaço de pesquisas, pois se destaca como espaço de democratização e expansão do ensino superior no contexto amazônico. Neste sentido através das vozes de professores e alunos do Curso de Letras do município de Vigia de Nazaré analisamos suas trajetórias, desafios, visões e práticas a respeito da unidade teoria-prática. Isso nos garante a construção de uma identidade para a formação, haja vista a compreensão das vozes silenciadas e ausentes nos discursos diferenciadores de vivencias e experiências daqueles que constroem a formação de professores de Língua Portuguesa.

Palavras-chave: Formação docente. Teoria-Prática. Licenciatura em Letras

Mesa-redonda do Interletras 2010

Educação especial e inclusiva: representações de professores sobre suas práticas no ensino de Língua Portuguesa
José Anchieta de Oliveira Bentes - UEPA - Pará

Pretendo nesta mesa discutir os princípios de uma educação inclusiva, verificando os papéis que o professor de Língua Portuguesa passa a exercer a partir desses princípios. No caso, destaco o apoio que deve ocorrer de um profissional da educação especial, na forma de um professor colaborador, no caso de deficiências múltiplas, surdocegueira ou deficiência intelectual, ou o apoio de intérpretes de língua de sinais, no caso de alunos surdos frequentarem a sala de aula, além da necessidade do professor ser bilíngue. Em todo o caso, com a inclusão os professores de Língua Portuguesa e das demais disciplinas precisam estar preparados para atuar com todas as deficiências. Após a discussão dos princípios, apresento algumas representações de professores de dirigentes sobre como a inclusão e sobre o que devem trabalhar em sala de aula. As representações ainda fazem classificações normativas dos alunos a partir da dicotomização entre exclusão e inclusão, menosprezando as pessoas em função das características que apresentam; uma segunda representação é que a inclusão se resume ao direito das pessoas deficientes de frequentar a escola regular e uma terceira é que o ensino dos alunos deficientes deve partir de unidades mínimas da língua, a letra, a sílaba. A seguir, apresento constatações sobre a fala, a escrita, a visão e a leitura de cinco alunos, propondo a perspectiva de trabalhar com o multiletramento para ultrapassar as representações apresentadas pelos professores pesquisados.

Palavras-chave: Educação inclusiva. Representações sociais de professores. Multiletramento.

24/11/2010

Programação INTERLETRAS UEPA

Dia 25 de Novembro de 2010
Manhã
8h às 10h – Mesa: Linguística
Prof° José Anchieta Bentes (UEPA) “Educação especial e inclusiva: representações de professores sobre suas práticas no ensino de Língua Portuguesa”.
Profª Suzanny Pinto (UEPA) “Vozes diferenciadoras da relação teoria-prática na formação do professor de Língua Portuguesa da UEPA”
Coordenação: Profª Sueli Pinheiro (UEPA)

20/11/2010

Estudo do livro “Para uma filosofia do ato responsável"

- Todos os atos responsáveis se concretizam em um ato estético.
- Os atos nos fazem singulares.
- Os atos nos constituem como centros emotivos-volitivos.
- Nossos atos são éticos.
- A ética e a estética não são estáticas.
- Ética e estética são universos diferentes, uma não penetra na outra, mas estão em jogo na arquitetônica do existir.
- Devemos responder por nossos atos.
- A verdade é válida em si mesmo, no existir. A verdade só vai ter validez, se servir para o existir.
- A estética é a percepção do mundo, não apenas a percepção ou recriação literária da realidade.
- A Objetivação: minha percepção individual, minha empáta para com algo. Identificar com o outro, com algo fora de mim.

Reunião 20/11/2010 do GELPEA

Resultados da discussão de hoje, dia 20/11/2010, às 16 horas, na UEPA, do GELPEA.

Participantes: Sueli, Rita B, Rita L., Suzanny, Simone, Bernadete, Paty e Anchieta.
Primeira reunião após a institucionalização no diretório de grupos de pesquisa da CAPES.
Primeiro ponto: Discussão sobre a fusão entre o GELPEA e o Grupo Letramento, Estudos linguísticos, Ensino e Formação de Professores de Língua Portuguesa. Decidimos ouvir a opinião de todos os integrantes do grupo, para poder nos posicionarmos sobre a questão.
Podemos:
1) Manter os dois grupos distintos, promovendo ações conjuntas. Ou,
2) Promover a fusão dos dois grupos. Há a sugestão do Prof. Samuel de incluir o termo Letramento, como uma das condições para ocorrer a fusão.
Caso a posição seja a (2) seja aceita, podemos a) alterar o nome do grupo para GRUPO DE ESTUDOS DE LETRAMENTO E PRÁTICAS EDUCACIONAIS DA AMAZÔNIA (GELPEA);
b) alterar para GRUPO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS, LETRAMENTO E PRÁTICAS EDUCACIONAIS DA AMAZÔNIA (GELPEA); ou
c) alterar para GRUPO DE ESTUDOS DE LINGUAGEM E PRÁTICAS EDUCACIONAIS DA AMAZÔNIA.
Segundo ponto:
II) Mesa redonda no interletras Mesa: “Docência: da formação inicial as práticas de sala de aula” - integrantes: Rita, Isabel, Suzanny.
Dia 25/11/2010. De 8 às 10 h.
Suzanny: “Vozes diferenciadoras da relação teoria-prática na formação do professor de Língua Portuguesa da UEPA”
Isabel:
Anchieta: Educação especial e inclusiva: representações de professores sobre suas práticas no ensino de Língua Portuguesa.
Terceiro ponto:
Fazer novo folder para o evento Interletras.
Conteúdo: linhas de pesquisa. Componentes, quem somos, objetivos.
Quantidade: 130. Valor 12,00
Incluir os nomes no folder:
Esp. Maria Bernadeth Lima – Prof. Da E.M.E.F. Laercio Wilson Barbalho e da E.E.E.F. Gregório de Almeida Brito
Esp. Simone de Nazaré Viana Lima – Professora da UEESP Astério de Campos
Me. Suzanny Pinto Silva – Professora da UEPA e da E.E.E.F. Albertina Leitão.
Quarto ponto:
Incluir orientandos no grupo de pesquisa. Encaminhar para o Anchieta cadastrar.
Quinto ponto:
Artigos para o livro organizado pelo Sandoval. Datas: prazo - primeira quinzena de 2011. Edição em fevereiro.
Sexto ponto:
Próximo encontro: quarta-feira 08/12/2010 - pela manhã - 9 horas – casa da Rita Bentes. Nesse dia almoçaremos juntos.
Pauta: Discussão sobre a fusão dos grupos
Avaliação da participação no Interletras
Discussão dos artigos para o livro.
Estudo - Para uma filosofia (p. 64 a 74).

15/11/2010

O que é o GELPEA?

Mikhail Bakntin (1895 - 1975)


A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema lingüístico abstrato das forma da língua nem no psiquismo individual dos falantes. (BAKHTIN, Marxismo e filosofia da linguagem, p. 124).
GELPEA é um grupo que pretende ser transdisciplinar. Pretende atuar em uma interseção dos campos da literatura, do cinema, da antropologia, da lingüística, dos estudos sobre negritude, feminismo, classe, deficiência. Teria uma abrangência de interesses, pressupostos e conflitos com trânsito por campos tão diferentes, em torno de um conceito igualmente abrangente de cultura e linguagem.

14/11/2010

Convite para reunião do GELPEA

CONVITE

Convidamos a todos, integrantes e interessados, para a próxima reunião do GELPEA.
Pauta:
1) Leitura e estudo do livro “Para uma filosofia do ato responsável” de M. Bakhtin. p. 53 a 64.
2) Informes e encaminhamentos da institucionalização do GELPEA


Dia: 20 de novembro de 2010 - Sábado
Horário: 15 horas.
Local: Universidade do Estado do Pará - Rua do UNA - Telégrafo - sala 02- bloco II.
GRUPO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E PRÁTICAS EDUCACIONAIS DA AMAZÔNIA

11/11/2010

O GELPEA já está institucionalizado

Retirado do site do CNPQ:
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=19298024ELVPY6
Nome do grupo: Grupo de Estudos Linguísticos e Práticas Educacionais da Amazônia
Status do grupo: certificado pela instituição
Ano de formação: 2010
Data da última atualização: 10/11/2010 22:06
Líder(es) do grupo:
José Anchieta de Oliveira Bentes
Patrícia Sousa Almeida
Área predominante: Lingüística, Letras e Artes; Letras
Instituição: Universidade do Estado do Pará - UEPA
Órgão: Departamento de Língua e Literatura
Endereço Logradouro: Rua do Una, nº 156
Bairro: Telégrafo CEP: 66113200
Cidade: Belem
UF: PA
Telefone: 40099525
Fax:
Home page: http://gelpea.blogspot.com/
Repercussões dos trabalhos do grupo
O Grupo de Estudos Linguísticos e Práticas Educacionais da Amazônia (GELPEA) reúne professores pesquisadores de instituições públicas e privadas em torno de duas linhas de pesquisas: a) Linguagem, letramento, gêneros discursivos e atividade docente na Amazônia e b) Práticas educacionais e sociais inclusivas na Amazônia. As pesquisas nessas duas linhas intencionam a participação dos interessados em todo o processo dos setores no sentido de propor, formar pesquisadores e divulgar os resultados a partir da busca de alternativas para minimizar problemáticas locais. Nesta perspectiva, os modos de gerar dados de pesquisa convocam pesquisas etnográficas e transdisciplinares. Os trabalhos produzidos pelo grupo são divulgados em cursos, palestras e comunicações. Buscam abranger públicos diversos, diretamente interessados nas resoluções dos problemas de pesquisa, dos diferentes níveis de ensino.
Recursos humanos
Pesquisadores
Total: 7
José Anchieta de Oliveira Bentes
Rita de Cássia Macedo Leal
Débora Cristina do Nascimento Ferreira
Maria do Perpétuo Socorro Dias Pastana
Rita de Nazareth Souza Bentes
Maria Helena Rodrigues Chaves
Sueli Pinheiro da Silva
Patrícia Sousa Almeida
Isabel Cristina França dos Santos Rodrigues
Jane Miranda Alves
Maria da Conceição Azevedo
Estudantes
Total: 0
Técnicos
Total: 0
Linhas de pesquisa
Total: 2
Linguagem, letramento, gêneros discursivos e atividade docente na Amazônia
Práticas educacionais e sociais inclusivas na Amazônia
Relações com o setor produtivo
Total: 0
Indicadores de recursos humanos do grupo
Integrantes do grupo
Total Pesquisador(es) 7

10/11/2010

Mestrado em Linguagens e Saberes da Amazônia em Bragança

A CAPES aprovou na sua 122ª Reunião o Mestrado para o Campus da UFPA Bragança - Pará.
Área de Avaliação: LETRAS/LINGUÍSTICA
Nome Programa: LINGUAGENS E SABERES NA AMAZÔNIA
Nível: ME
Nota: 3
Sigla: UFPA
Nome da IES: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

01/11/2010

Comentários no Blog

A internauta Graciete fez comentários no Blog, no dia  18 de outubro de 2010. Os comentários são sobre os textos que foram apresentados no I SELLI, no Campus da UFPA de Castanhal.
Vamos rever? 
Graciete disse...
O gênero carta de leitor se mostrou eficiente nesse assunto, principalmente, uma vez que um dos principais erros do aluno é deixar-se levar por sua opinião durante uma dissertação, tipo de texto onde uma das principais características é evitar usar a primeira pessoa do plural. Ótimo modo de utilizar o interacionismo sociodiscursivo numa produção textual.
Que estudo interessante o sobre adolescentes e jovens com deficiência múltipla! É triste como hoje, no século XXI, a psicopedagogia ainda tem dificuldade para entender a didática ideal para esses jovens especiais, muitas vezes dando preferência às crianças especiais. Se estudos como esse, que mostra como é simples ter uma boa interação escolar com esses alunos, fossem divulgados, muitos dos problemas em relação a eles seriam superados.
É essencial sabermos, como membros do corpo docente, que os métodos didáticos evoluem juntamente com os alunos e a sociedade. Para saber que evoluções são essas, nada melhor que estudar vários relatórios de diferentes perspectivas para finalmente entender as mudanças no habitus e nos objetos de ensino.
Para a aprendizagem da língua materna, um pouco de gramática decorativa não basta, ou continuaremos formando analfabetos funcionais. O essencial é o estudo de diversos gêneros textuais. Sabemos que a fusão entre concepções de sequência didática e de avaliação formativa contribuem para a plena aprendizagem da língua materna também.
Esse último tópico foi muito interessante também ao mostrar o modo que os docentes ensinam diversos elementos diferentes, valorizando saberes mobilizados e seguindo sequências didáticas, para assim obter uma melhor interação.

Fotos da reunião do dia 30/10/2010

Sobre a nossa última reuião, ocorrida na casa da Socorro, estudamos e a discussão foi bem interessante. Continuamos a leitura do texto Para uma filosofia do... e combinamos que todos deverão ler da página 53 à 64, mantendo a mesma estratégia de leitura e grupo, mas tendo uma leitura prévia para tentarmos ter um entendimento maior do conteúdo e fomentar nossas discussões.

No momento dos informes, dentre algumas coisas, falamos a respeito dos eventos previstos de ocorrerem ainda neste dois últimos meses de 2010 e de como será a participação do gruponos mesmos.

31/10/2010

Artigos dos integrantes do GELPEA

REFERENCIAÇÃO E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Maria da Conceição AZEVÊDO (Universidade Federal do Pará)

Sandoval Nonato GOMES-SANTOS  (Universidade de São Paulo)


RESUMO: A construção da referência em práticas de linguagem no ambiente escolar envolve professores e alunos em atividades diferenciadas daquelas que se dão em outras práticas linguageiras. Pretendemos descrever e analisar algumas estratégias de construção da referência mobilizadas pelo professor em uma aula voltada ao estudo do emprego das formas verbais de 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito e do futuro do presente do indicativo, para uma turma de 3ª série do ensino fundamental. Com base na noção de referenciação (Koch, Morato & Bentes, 2005), bem como nas noções de presentificação e topicalização do objeto de ensino (Schneuwly, 2000; 2001), examinaremos de que forma determinadas estratégias de construção da referenciação operam como instrumento didático para presentificar o objeto de ensino e pontuar seus elementos constitutivos. Essa análise nos auxiliará ainda na compreensão do processo de didatização do objeto de ensino na prática escolar.

PALAVRAS-CHAVE: referenciação; instrumento didático; ensino de língua materna.

ABSTRACT: The construction of reference in language practices in the school environment involves teachers and students in differentiated activities of other language practices. We describe and analyze some strategies of reference construction mobilized by the teacher in a class about the use of verbal forms of pastperfect and future tense in plural 3rd person for a group of 3rd series of the basic teaching. We be based in referring notions (Koch, Morato & Bentes, 2005), presentification and pointage of the teaching object (Schneuwly, 2000; 2001). We will examine how that reference construction forms of the speech object it serves as didactic instrument for presentation of teaching object and to point to its constituent elements. That analysis will help us to understand the transposition process of the teaching object in school practice.

KEYWORDS: reference; didactic instrument; mother language teaching.

1. Introdução

O presente trabalho procura aliar algumas das recentes reflexões sobre a questão da referência no campo da Lingüística Textual — em articulação com disciplinas como a Sociologia, as Ciências Cognitivas e a Psicologia, entre outras —, com a investigação sobre as práticas de ensino-aprendizagem de línguas.

Pretendemos descrever e analisar o funcionamento discursivo de uma interação em sala de aula, problematizando em particular os modos com que determinadas estratégias de referenciação mobilizadas pela professora atuam como instrumentos didáticos no processo de presentificação e topicalização do objeto de ensino (objeto gramatical) em jogo na cena didática, qual seja o emprego das formas verbais de 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito e do futuro do presente do indicativo.

Inicialmente, explanamos brevemente sobre o processo de referenciação na construção das práticas interativas e sobre o papel dos instrumentos didáticos no trabalho docente. Em seguida, apresentamos a descrição e análise de uma aula de português na 3ª série do ensino fundamental.

2. O processo de referenciação na construção das práticas interativas: a situação didática em foco

Koch, Morato & Bentes (2005, p. 7-10) traçam um breve panorama da mudança de perspectiva na abordagem do fenômeno da referência, no âmbito das reflexões sobre a linguagem. Assim, se antes a referência era compreendida em termos do estabelecimento de relações vericondicionais entre as formas lingüísticas e os objetos do mundo, nos últimos anos essa perspectiva vem sendo posta em questão com base na investigação das atividades de linguagem tomadas como resultado da interação entre sujeitos situados sócio-historicamente, que instauram em seus textos objetos-de-discurso, e não objetos do mundo que seriam o reflexo da realidade .

Partindo do pressuposto de que através das práticas discursivo-textuais construímos e reconstruímos a realidade, consideramos, com Koch, que “os objetos-de-discurso não se confundem com a realidade extralingüística, mas (re)constroem-na no próprio processo de interação” (2005, p. 33). As atividades de referenciação são aqui tomadas como atividades discursivas, pois são os sujeitos envolvidos numa interação verbal que, ao selecionarem determinadas expressões referenciais, operam sobre o material lingüístico de que dispõem com o objetivo de construir sua proposta de sentido. Os objetos-de-discurso são, portanto, produtos da atividade interativa e cognitiva desses sujeitos, o que nos leva a considerar também que os “referentes” não preexistem a essa atividade, e que a referenciação é sempre resultado de uma co-construção, de uma negociação entre os sujeitos interlocutores.

Consideramos que uma prática de ensino de língua, enquanto prática discursiva, consiste num processo conjunto de construção dos objetos-de-discurso pelos interlocutores, e por se tratar de um processo intersubjetivo e sócio-historicamente constituído, a significação se constitui na e pela interação. Assumir essa visão implica pontuar, em nossa análise, não apenas os “marcadores de um estatuto referencial”, mas de maneira mais ampla, os “recursos linguageiros mobilizados para realizar propriedades referenciais”, como sugere Mondada (2005, p. 12-13). Para a autora, há várias situações “em que a palavra está imbricada na ação não-verbal, na materialidade do contexto e na manipulação de objetos” (p. 16). A interação didática é um bom exemplo de situação em que a produção da referência “se faz por meio de práticas sociais multimodais e não somente lingüísticas” (grifo da autora).

Essa perspectiva no trato do funcionamento da referenciação vai ao encontro das percepções de Signorini (2006, p. 185) quando menciona a sala de aula como espaço privilegiado das práticas escolares. Para a autora,

As ações verbais que aí se desenvolvem não se dissociam dos sistemas de objetos (disposições arquitetônicas, mobiliário, material didático e de apoio, por exemplo) que dão densidade a esse espaço específico e que tanto orientam e predispõem os atores quanto são reorientados e transformados no curso de suas ações. O fato de esses objetos serem de épocas diferentes (lousa e artefatos audiovisuais, por exemplo) e muitas vezes terem ‘intencionalidades’ contraditórias (produção de cópias para o primeiro e de anotações ou não-cópias para o segundo, por exemplo) é um dado relevante para o estudioso da dinâmica da aula e das ações verbais de professores e alunos.

A chamada ‘cultura escolar’, bem como os chamados ‘saberes’ escolares deixam, assim, de ser algo abstrato e genérico, depositado na memória de professores e alunos, e passam a ter a consistência dos modos de raciocinar/agir/avaliar tanto gerados quanto instanciados, transformados e/ou subvertidos pelas ações, retroações, bifurcações que dão corpo e visibilidade às práticas escolares. Nesse sentido, passam a ter a consistência de estratégias ou matrizes interpretativas veiculadas não só por discursos e metadiscursos em circulação na escola (orais e escritos; ditos e não ditos, prestigiados e interditados etc.), mas também por objetos acessíveis publicamente (Urban, 1991) e que são postos em funcionamento nas/pelas práticas escolares. Sob essa perspectiva, não só um conceito ou teoria, mas também um retroprojetor ou um manual didático, por exemplo, podem ser objetos atuantes numa aula e, por conseguinte, comporem, juntamente com professor e alunos, o sistema de ações, inclusive verbais, em curso naquela aula. O que não impede, evidentemente, que se verifiquem contradições, rupturas e desalinhamentos de natureza epistemológica, ou teórico-metodológica, entre esses diferentes agentes e entre as ações e retroações produzidas na/pela dinâmica da aula.

Com base em tais pressupostos, propomos discutir de que forma as estratégias de referenciação permitem ao professor organizar a prática didática, ou seja, observaremos qual (quais) função (funções) essas estratégias apresentam na prática de ensino investigada, considerando-se que essa prática ganha corpo pelo uso de determinados instrumentos didáticos, como veremos a seguir.

2.1. Os instrumentos didáticos no trabalho docente

Schneuwly (2000, p. 23), partindo da concepção marxista de trabalho, define a atividade do professor como um trabalho. E trabalho, para Marx (apud SCHNEUWLY, 2000, p. 21), é “antes de tudo um ato que se passa entre o homem e a natureza” , um processo que se compõe de três elementos: “1. a atividade pessoal do homem ou o trabalho propriamente dito; 2. o objeto sobre o qual o trabalho age; 3. o meio pelo qual age” .

Assim concebido, o trabalho de ensino, envolve, necessariamente, uma atividade voltada a transformar determinado objeto, utilizando-se de certos meios ou instrumentos que possibilitem agir sobre esse objeto, em direção a um produto. Ensinar, portanto, é uma atividade que tem como objeto a transformação de modos de pensar, de falar e de fazer dos alunos; que tem como meios ou instrumentos os signos ou sistemas semióticos; e tem um produto: modos de falar, de pensar e de fazer (dos alunos) transformados.

Essa configuração da atividade de ensino pressupõe que os meios ou instrumentos utilizados pelo professor têm um papel fundamental na transformação do objeto de ensino em objeto ensinado. Para compreender o papel desses instrumentos, é necessário levar em consideração que o trabalho de transformação baseia-se sobre um processo de dupla semiotização (SCHNEUWLY, 2001): o objeto de ensino é “presentificado” por meio de técnicas de ensino e materializado sob formas diversas (objetos, textos, folhas, exercícios etc.); ao mesmo tempo que é “topicalizado” pelo professor, através de procedimentos semióticos diversos, com os quais o professor detalha e mostra as dimensões essenciais desse objeto para os alunos. Tais processos estão indissoluvelmente ligados e são mutuamente constitutivos.

Partindo da hipótese de que a ação referenciadora atua, globalmente, como um instrumento didático na aula, a análise proposta mais adiante enfocará as estratégias referenciais de que o professor se utiliza, em seu trabalho de ensino, para: i) tornar presente o objeto de ensino e ii) guiar os alunos para as dimensões específicas desse objeto.

3. Cantaram ou cantarão?

Os dados analisados a seguir constituem-se em uma aula registrada em vídeo, que totaliza 20min. 43s. de gravação, sendo que o recorte que constitui o corpus analisado a seguir contempla 14min. e 39s . Trata-se de uma aula de revisão, ocorrida em janeiro de 2007, em que a professora Paula (nome fictício) corrige um exercício e tira dúvidas dos alunos. A situação de aula será considerada com base nos seguintes procedimentos: i) a descrição dessa situação em um quadro sinóptico que sintetiza sua organização global e ii) a análise de alguns momentos da aula.

O episódio descrito configura-se como aplicação de um exercício de revisão para posterior avaliação da aprendizagem, constituindo-se em atividades de correção e de exposição da professora voltadas a dirimir as dúvidas dos alunos. Isso nos permite afirmar que a “instância do exercício” (BATISTA, 1997) sobredetermina essa aula.

Antes da análise, apresentamos o quadro sinóptico que possibilita uma visão geral do episódio:

Sinopse de episódio: Emprego das terminações verbais -ÃO e -AM

Professora: Paula Aula: Exercício de revisão

Série: 3ª DVD: VC 2007 C2-2 Início: 01’’ – Término: 14’39’’ Data: janeiro/2007

Nível Descrição das atividades

1Empregar as formas verbais de 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito e do futuro do presente do indicativo.

1-1 Identificar a distinção entre -ão e -am em palavras do texto.

0 Transição A professora organiza a turma para a correção do exercício

1-1-1 Professora faz anotações no quadro e expõe sobre as terminações verbais.

1-1-2 Professora e alunos lêem o texto do exercício e corrigem coletivamente algumas questões.

1-1-3 Alunos resolvem o exercício.

Professora vai corrigindo os exercícios de alguns alunos em sua mesa de trabalho ou dirige-se às cadeiras de alguns alunos fazendo orientação individualizada.

Após a proposição de um conjunto de questões com a finalidade de revisar um conteúdo provavelmente já exposto, a professora convoca os alunos para que resolvam o exercício. Quando percebe que a maioria dos alunos já havia respondido, mas que muitos ainda apresentavam dúvidas na resolução de algumas questões, organiza a turma para a correção coletiva do exercício e o esclarecimento das questões que representaram dificuldades para os alunos. É possível observar que a professora utiliza uma descrição nominal para categorizar o referente, no caso, o suporte material em que se encontrava o exercício. Temos, como é possível constatar no excerto a seguir, uma caracterização metonímica do referente, o termo papelzinho denota uma relação material com o exercício ao qual a professora faz referência:

(1) 1" P: (xxx) já que tá tendo dúvida (xxx) SÓ...letra A senta lá... ((espera que os alunos localizem o texto, enquanto arruma os cabelos)) ...meninos tá ali o papelzinho peguem aí eu vou aproveitar e explicar... peguem a explicação de novo... pega o papelzinho Paulo... pegue o papelzinho ((tira os óculos enquanto fala e espera os alunos))... senta lá Leonardo

O exercício, materializado na folha de papel, pode ser considerado um instrumento didático que torna presente o objeto de ensino, no caso, o emprego das terminações verbais de 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito e do futuro do presente do indicativo. E é a partir dessa presentificação inicial que o objeto vai sendo topicalizado.

Na ocasião da correção coletiva das questões do exercício, a professora destaca as dimensões do objeto que deseja enfatizar. Percebemos que esse trabalho é feito tanto através do uso de marcadores lingüísticos — como expressões nominais e pronomes anafóricos —, quanto de recursos prosódicos (entoação e acentuação) e do gesto de apontar, ocasião em que a professora direciona o olhar dos alunos para as anotações no quadro.

(2) 50" P: Ó peguem de novo o Paulo o Ednaldo o:: Leonardo peguem o papelzinho de vocês depois o Ednaldo não é:: o Gabriel é:: o Alejandro nós estamos trabalhando o AM e ÃO TÁ ((nesse momento, aponta para anotações no quadro)) nos verbos nas últimas pessoas no passado e no futuro eles têm uma mudança TÁ quando eu fa eu falei psixi:: ((interrompe pedindo silêncio)) quando vocês vão ler o textinho eu vou explicar novamente as questões PrisciLA ((interrompe para chamar a atenção da aluna))...TÁ olha aqui ó Leonardo cadê o Leonardo? Leonardo preste atenção TÁ quando eu digo canTAram ou cantaRÃO tá? ((aponta novamente para as anotações no quadro)) no passado (...)

Assim, ao apontar para as anotações no quadro e pronunciar determinadas sílabas com mais ênfase, a professora procura destacar um aspecto do objeto de ensino para os alunos, qual seja a acentuação tônica que diferencia o emprego das formas verbais em estudo.

O emprego de expressões e gestos dêiticos, comuns às práticas discursivas como recursos referenciais que atendem aos propósitos comunicativos do sujeito falante, funciona particularmente como auxílio à professora no processo de topicalização do objeto de ensino e de focalização de alguns de seus componentes. No excerto a seguir, por exemplo, ao tentar focalizar a relação entre as terminações dos verbos e o tempo expresso nas respectivas formas verbais que as contêm, a professora, enquanto explica, aponta para a questão do exercício que trata de tal aspecto, no papel que tem nas mãos. O gesto de apontar, nesse caso, conjuga-se às expressões usadas nessa ação discursiva (“na letra b”, “são esses os verbos”).

(3) 3'41" P: vai acontecer então respondendo é uma ação que vai acontecer na letra b é onde vocês vão estão com dúvida ((aponta, no papel que tem nas mãos, para a questão que está comentando)) são esses os verbos falaram mentiram falarão e mentirão e vocês vão levar pro caminho certo onde é que fica os verbos falaram e mentiram? que quadrado? tempo passado ou tempo futuro?

4'03" A5: passado

4'04" P: passado... e o outro falarão e mentirão?...tempo...

4'09" A6: futuro

Como podemos depreender pelo excerto acima, a introdução de determinados objetos-de-discurso está diretamente relacionada com certos gestos dêiticos. É o que ocorre quando a professora, ao explicar a resolução da questão do exercício, introduz o termo “quadrado”, enquanto aponta para o papel: assim, ela procura guiar os alunos para a localização visual, no exercício, da resposta adequada.

No excerto (4), a seguir, a professora opera sobre uma dimensão do objeto de ensino, as sílabas tônicas das formas verbais em estudo. Tal qual observamos em relação ao excerto (2), o aspecto prosódico (o acento tônico em determinadas sílabas das formas verbais) é um recurso utilizado por ela para pontuar essa dimensão do objeto, já que é importante que os alunos percebam a relação entre a acentuação tônica e a escolha adequada entre os tempos expressos em cada forma verbal.

(4) 4'10" P: futuro então tem dúvida nisso? não tem "Releia esses versos do poema se falaram no passado no futuro falaRÃO se mentiram no passado no futuro mentiRÃO” agora ele tá pedindo assim letra a "Circule a sílaba tônica" ou seja a sílaba que é pronunciada com mais força ((gesticula com a mão direita fechada, como se quisesse imprimir força em algo)) nesses verbos... que verbos? esses que estão em? ... escuro em negrito estão com um tracinho ainda por baixo ((enquanto fala, aponta no papel)) TÁ?(xxx) os que estão destacados... no a no verbo faLAram qual é a sílaba mais forte?... faLAram

4’50’’ Vários alunos: LA

4'52" P: LA então você vai circular a sílaba?... LA e falaRÃO?

4’59’’ A7: RÃO

5’01’’ P: RÃO aí circula a sílaba?...RÃO tá bom? na letra b "quais os verbos cuja sílaba tônica é a penúltima?" eu coloquei pra vocês aqui ó quando eu coloco ((escreve no quadro))... ÁRvore não tem acento mas se fosse acentuado aqui ((referindo-se a última sílaba re)) seria a?... última mas não é ((apaga o acento feito na sílaba re)) vamo colocar a pala

[5'24" A7: ei tia mas é desse ver

[5'25" P: é do verbo é do verbo então vamo colocar o verbo?... vamo colocar o verbo qual é o verbo? vou fazer difícil ((escreve no quadro))... faLAram e falaRÃO... onde está a sílaba tônica que é a última?...

A participação dos alunos contribui tanto para a categorização e recategorização dos referentes, quanto leva a professora a reorganizar a própria tarefa de topicalização dos elementos constitutivos do objeto de ensino, o que implica, como demonstra o excerto acima, a reformulação do exemplo apresentado, em função da intervenção de um dos alunos (A7).

É relevante pontuar que, embora a interação analisada não se dê de forma simétrica, sendo da professora a maior parte dos turnos, há participação dos alunos na construção da referenciação, o que acontece em geral quando alguns respondem a perguntas feitas pela professora.

Assim, por meio do par dialógico pergunta-resposta, a professora topicaliza determinada faceta do objeto de ensino, e, diferentemente do que ocorre numa conversação espontânea, esse recurso serve para verificar se os alunos sabem ou não a resposta a ser dada (SILVA, 2006, p. 273). As perguntas dirigem-se para a turma, em geral, e não para um aluno específico. Assim, a professora direciona os alunos, procurando certificar-se do seu grau de compreensão em relação ao aspecto do objeto de estudo que ela está evidenciando.

Do ponto de vista didático, a organização discursiva dessa aula pode estar relacionada a dois fatores: o propósito da aula e o objeto de ensino em questão. A forma de organização da prática didática nessa aula permite-nos supor que o objetivo da professora centra-se no enfoque de um objeto gramatical. Isso se revela inclusive pelo fato de que o exercício trabalhado contempla a leitura de um texto (um poema), no entanto, as questões propostas nesse exercício enfocam tópicos gramaticais.

É possível que o fato de se tratar de uma aula de revisão, a respeito de um conteúdo de cunho gramatical, determine os movimentos do diálogo entre a professora e os alunos que pode ser globalmente assim caracterizado: a professora, com o intuito de averiguar se os alunos sabem a resposta, enuncia a pergunta e, em boa parte da interação, vários alunos respondem prontamente. Logo após ouvir a resposta dos alunos, a reação da professora é quase automática: ela enuncia o mesmo segmento dos alunos, concordando com sua resposta , como podemos observar nos excertos (3) e (4). Esse movimento discursivo também subsidia a professora na tarefa de manter os alunos atentos ao aspecto topicalizado do objeto de ensino, e, assim, garante-lhe, em certa medida, a gestão da turma.

4. Considerações finais

A análise dos episódios apresentados permite constatar o quão complexa é a tarefa do professor, que precisa coordenar as ações discursivas de tratamento do objeto de ensino com o trabalho de gestão da atenção da turma para esse objeto, tudo isso mediado pelo uso dos instrumentos didáticos materiais (exercício, texto, anotações) em articulação com estratégias de referenciação, que, em grande medida, enquanto instrumento didático global, garantem a presentificação-topicalização do objeto de ensino.

As hipóteses aqui levantadas apontam para a necessidade de aprofundamento da análise de dados oriundos de práticas de ensino com base em um foco que busca tratar da interação verbal em sala de aula sem renunciar à discussão da dimensão didática dela constitutiva. Em outros termos, trata-se de abordar o funcionamento discursivo da interação em sala de aula escapando ao risco de dissociar análise lingüística (discursiva) e reflexão didática, como sugerem Gomes-Santos e Abreu (2007).

Referências

BATISTA, A. A. G. Aula de português – discurso e saberes escolares. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
GOMES-SANTOS, S. N. A circulação de objetos de saber sobre a linguagem em práticas de ensino-aprendizagem da língua materna: formas do trabalho docente e modos de aprendizagem do aluno. Projeto de Pesquisa, Curso de Mestrado em Letras – Instituto de Letras e Comunicação – Universidade Federal do Pará, 2005-2008.
GOMES-SANTOS, S. N. & ABREU, I. D. (2007). Um olhar sobre a aula de português: materialidade discursiva e economia didática. In: Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso - GEGE (org.). O Espelho de Bakhtin. São Carlos/SP: Pedro & João Editores.
KOCH, I. V.; MORATO, M. E.; BENTES, A. C. (orgs.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2005.
KOCH, I. V. Referenciação e orientação argumentativa. In: KOCH, I. V.; MORATO, M. E.; BENTES, A. C. (orgs.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2005. p. 33-52
MONDADA, L. A referência como trabalho interativo: a construção da visibilidade do detalhe anatômico durante uma operação cirúrgica. In: KOCH, I. V.; MORATO, M. E.; BENTES, A. C. (orgs.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2005. p. 11-31
SCHNEUWLY, B. Les outils de l’enseignant – un essai didactique. Université de Genéve, Repères, nº 22, 2000.
_____. La tâche : outil de l’enseignant, Metaphore ou concept ? In: DOLZ, J., SCHNEUWLY, B. Et al. (dir.). Les tâches et leurs entours en classe de français. Actes du 8º Colloque International de la DFLM – Neuchâtel 26-28 septembre 2001. Neuchâtel : IRDP [CD-ROM].
SIGNORINI, I. A questão da língua legítima na sociedade democrática: um desafio para a lingüística aplicada contemporânea. In: MOITA-LOPES, L. P. da (org.). Por uma lingüística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. p. 169-190.
SILVA, L. A. da. Perguntas e respostas: oralidade e interação. In: PRETI, D. (org.). Oralidade em diferentes discursos. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2006. p. 261-295.


O GÊNERO LENDA E SUAS CONTRIBUIÇÕES AO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA

Isabel Cristina França dos Santos Rodrigues (SEDUC/SEMEC/PPGED-UFPA)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo discutir a recepção do gênero lenda (narrativas “Os filhos do Boto” e “A Matintaperera” pertencentes ao acervo do IFNOPAP), baseando-se numa perspectiva dialógica da constituição da escrita, observando as relações intertextuais e interdiscursivas presentes na produção dos alunos de uma turma de 5ª série do ensino fundamental de uma escola pública estadual a partir do corpus coletado durante a implementação de uma proposta de pesquisa-ação.

ABSTRACT
The present paper has the objective of discussing the reception myth genre (“Os filhos do Boto” and “A Matintaperera”) belongs to the IFNOPAP), based in a dialogic perspective about writing, observing the intertextual and interdiscursive relations presented on the texts in a 5 th class at a public school during the development an action research.

KEYWORDS: Literacy; Discourse genre; Textual production; Action research; Retextualization; Intertextuality.

0. Introdução

Atualmente, as atividades de produção textual têm sido o foco do trabalho desenvolvido na maioria das aulas de língua materna como uma das principais formas de avaliar os educandos no que se refere ao “domínio” do conteúdo ministrado. Em função disso, a oralidade fica cada vez mais de lado, pois é vista, em muitos casos, como algo que pode prejudicar a elaboração dos textos escritos.

Alia-se a esse encaminhamento a negação de tudo o que não está devidamente institucionalizado como padrão no contexto escolar: o uso excessivo de textos quase sempre os pertencentes a autores apresentados, sobretudo, nos livros didáticos de LM, que pouco estão relacionados à realidade dos alunos. Conseqüentemente, os educandos são convocados a elaborarem textos (redações) cujos temas não refletirão as experiências e as necessidades comunicativas que eles acumulam em interações com outras comunidades (família, trabalho, igreja, etc.).

Deixa-se, assim, de lado a bagagem cultural dos educandos, tendo-se a leitura como uma atividade quase mecânica. Resta aos alunos tentarem dar conta das tarefas estabelecidas pelo professor e, nessa tentativa eles demonstrarão, através de seus textos, maneiras de lidar com a escrita nem sempre prestigiadas pela instituição escolar. Além disso, em sala de aula, as atividades de linguagem baseadas no texto visam à correção centrada na observação do uso do código, segundo as classificações da gramática normativa. O problema reside justamente em acreditar que em função do ensino prescritivo, pode-se desconsiderar as experiências que os educandos possuem em relação a seu sistema linguístico, uma vez que eles utilizam-se de variedades diferentes daquela privilegiada pela instituição escolar.

Por seu turno, o professor frustra-se ao perceber que suas aulas limitam-se aos exercícios das regras da gramática tradicional, mas que nas redações os alunos não conseguem usar tais regras, ou quando as utilizam nem sempre conseguem dar coerência a seus textos. Demonstra-se, assim, que a maneira como está sendo conduzido o ensino de Língua Materna nas escolas não refletirá a língua nos seus usos efetivos, seja por parte do professor, seja pelos alunos que acabarão por evadir-se da escola, uma vez que não conseguem “falar a mesma língua que ela” (Kleiman, 1998a, 1998b; Matencio, 1994 b; Soares, 1985).

A partir da observação dos encaminhamentos adotados pelos professores em aulas de LM de uma escola pública estadual, verificou-se que a base desses encaminhamentos era de se trabalhar a produção textual utilizando gêneros (principalmente os literários) apresentados no livro didático. Em função disso, propomos uma alternativa de se trabalhar com o gênero lenda (lendas do Boto e da Matintaperera), tendo em vista que este era um dos mais solicitados por parte dos alunos.

A opção pelo gênero lenda ocorreu pelo fato de se ter percebido que o gênero lenda é utilizado (pelos professores) no contexto escolar em boa parte nos eventos alusivos à semana do folclore durante o mês de agosto, e não como um objeto de ensino entre tantos outros para se trabalhar a produção textual. Além disso, o referido gênero possuía uma configuração bem diferenciada dos textos até então apresentados aos alunos no que tange à modalidade escrita (transcrição de uma narrativa com explícitas marcas da língua coloquial), que acabou por despertar bastante a curiosidade dos educandos. Trabalhos desta natureza têm sido realizados com mais frequência (Gomes-Santos, 2000; Rodrigues & Cunha, 2003; Rodrigues, 2005; 2006).

1-Fundamentação teórica

Partindo da idéia de se verificar a recepção de um gênero em sala de aula, selecionou-se para este trabalho os pressupostos teóricos do dialogismo bakhtiniano, mais precisamente, no que se refere à atitude de “compreensão responsiva ativa” por parte do interlocutor, ou seja, analisar de que forma a “réplica” do aluno no momento em que é convocado a retextualizar os textos propostos durante o desenvolvimento da pesquisa-ação atualiza certos enunciados de maneira diversificada, ora atendendo às possíveis expectativas do professor, ora subvertendo-a, ou negando-a, conforme seus propósitos interlocutivos e seus conhecimentos de mundo.

Dessa maneira, procurar-se-á mostrar que os alunos não têm uma atitude passiva diante dos textos que lhes são apresentados no contexto escolar. Assim, segundo Bakhtin, o falante “não espera uma compreensão passiva, por assim dizer, que apenas duble o seu pensamento em voz alheia, mas uma resposta, uma concordância, uma participação, uma objeção, uma execução...” (Bakhtin, 1997, p.272). Com base nisso, pode-se dizer que os educandos, no momento da produção textual, acabam por imprimir em seus textos conhecimentos de mundo nem sempre legitimados no contexto escolar, como por exemplo, as suas histórias de letramento, que bem pouco têm sido valorizadas pela escola, reiterando um modelo de letramento autônomo centrado na construção da cognição sem contextualizar os aspectos da leitura e da escrita em atividades discursivas. Assim, não cria oportunidades de implementação do modelo de letramento ideológico caracterizado pela valorização das práticas sociais significativas para determinada comunidade (Kleiman, 2003).

A escola torna-se a instituição destinada a promover e transmitir os valores legitimados por aqueles que detém o poder e que, portanto, atribuem à essa instituição a função de reiterar os papéis sociais. A língua acaba por ser um objeto de exclusão, detendo-se por assim dizer, em contextos nos quais pessoas com diferentes status societal (principalmente, aqueles de nível mais baixo, segundo os critérios que privilegiam a escrita), sentem-se, em boa parte, no que Mey (2001) chama de duplo dilema. Esses sujeitos querem ver sua voz respeitada, via suas escolhas lexicais, como também “participar de um contexto mais amplo da sociedade” (Mey, 2001, p.140), no qual são mobilizados recursos próximos às linguagens mais valorizadas socialmente.

Contrapondo-se à ideologia do modelo autônomo de letramento, a escola poderia criar estratégias (voltadas, principalmente, para os usos reais da língua) para que os indivíduos não estivessem submetidos ao ensino-aprendizagem da forma, mas da função da língua (Kleiman, 2000). Isso contribuiria para que eles não fossem etiquetados como incapazes e, conseqüentemente, fadados à ignorância, ao subemprego, à acomodação por não saberem utilizar as regras da gramática normativa de maneira adequada, por exemplo.

Em direção similar ao que defende Bakhtin (1997), vale ressaltar aqui a proposta de Possenti (2002) no que se refere à autoria dos educandos na produção escrita, posto que estes, ao escreverem, reacentuam de uma forma ou de outra um determinado gênero, fenômeno este que é um dos focos deste trabalho, pois, segundo Possenti, avaliar o grau de autoria de um texto significa considerar algumas etapas: num primeiro momento, diferenciar a leitura de um texto sob um olhar de dois tipos: a) o olhar de “o quê”, que busca apenas o conteúdo direto da mensagem do texto, e b) o olhar de “como”, ou seja, do modo como esse texto tem o seu sentido construído num dado evento comunicativo.

Diante da necessidade de o professor desenvolver um trabalho a partir dos problemas de uso da linguagem (Moita Lopes, 1996) identificados em sala de aula, procurou-se fazer uso dos embasamentos teórico-metodológicos da pesquisa-ação, pois ela oferece “um método poderoso para preencher as lacunas entre a teoria e a prática educacional” (McNiff, 1988, p. 01). Além do fato de possuir como foco “o processo do uso da linguagem” e não mais o produto final, no qual não se observa o contexto e as condições de produção das atividades de linguagem das quais os sujeitos participam. Além de um caráter educacional, a pesquisa-ação possui um caráter político, por envolver pessoas reais em situações concretas. Consideramos esta perspectiva como a mais viável para o tipo de trabalho que desenvolvemos, tendo em vista que ela leva em consideração que em qualquer estudo contextualizado é essencial que se respeite à visão que os participantes (professora-pesquisadora e alunos) têm do contexto.

No caso mais específico do ensino de LM, a pertinência da pesquisa-ação é válida, à medida que o educador, de forma geral, poderá fazer uso, por exemplo, das histórias de letramento dos seus educandos, e a partir destas ampliar o nível de letramento dos mesmos. Além disso, nessa perspectiva, a posição delegada ao professor é bastante significativa, pois ele é motivado a aventurar-se na organização de teorias que levem em conta a realidade dos demais atores do processo educativo e o contexto no qual estes se encontram. Para que isso ocorra, o educador precisa também ser criativo, colaborativo e, dialógico, visto que enquanto professor-pesquisador apresentará a sua proposta aos demais colegas e tentará persuadi-los a se envolverem nessa proposta. Isso é interessante, pois, a realidade de uma parte considerável dos profissionais em educação, mesmo nos mais variados níveis de ensino e de faixa salarial é a seguinte: carga horária máxima; turmas superlotadas; escolarização mínima exigida na sua função, entre tantos fatores que acabam por não criar condições mais favoráveis para que um professor se torne um professor-pesquisador.

2-Caracterizando o gênero lenda

Segundo Cascudo (1978, apud Rodrigues & Cunha, 2003), as lendas sofrem uma grande intervenção do sobrenatural, assim como a leitura e o ritual que são conferidos a elas, dando-lhes “meia certeza da credulidade”, que acabam por manter a tradição de um povo. Assim, trabalhar o gênero lenda, no contexto escolar, também resgataria o aspecto cultural, incentivando os educandos a darem continuidade a uma tradição que aos poucos está sendo esquecida, que é o “contar histórias”, conforme afirma (Fares, 1997) que, em sua pesquisa com contadores de histórias, verificou que essa tradição está em via de extinção por dois motivos: “a falta de tempo e o desinteresse pelas coisas do que lembra o passado” (Fares, 1997, p.31). Caberia, então à escola oportunizar esse tipo de trabalho.

Partindo-se das relações intertextuais que os alunos constroem, utilizando um gênero pelo qual já circulam, não significa que só poderemos trabalhar com gêneros que os alunos conhecem, antes mesmo do seu processo de escolarização. Mas que essa prática sirva de base para que o educando possa estabelecer mais relações intertextuais nas suas produções, já que os sujeitos terão condições mais favoráveis de conversar e principalmente, de escrever a partir daquilo que conhecem (Koch, 1998; Kleiman, 2000). Esta atitude criará condições para que o educando re-signifique as suas relações com suas práticas linguageiras e, posteriormente, tenha acesso a outros gêneros mais institucionalizados.

Para Kleiman (2000)

“o incentivo para a leitura está no cotidiano dos próprios alunos, pronto a ser percebido pelo professor que procura conhecê-los. O interesse dos alunos por um tema específico deve constituir-se no ensino por meio do qual seu repertório textual é ampliado e diversificado” (Kleiman, 2000, p.229).

Isso indica que o professor precisa conhecer os seus alunos para poder selecionar os gêneros com os quais trabalhará. O que ocorre, na maioria das instituições escolares, tanto da rede pública quanto da rede particular, é que durante a semana pedagógica, realizada no início de cada ano letivo, planejam-se os conteúdos, estratégias, recursos e formas de avaliação a serem trabalhados no decorrer do ano, antes de se conhecer os alunos. Essa é uma práxis escolar que toma os educandos como sujeitos homogêneos. Poucos são os casos em que o professor (que trabalha o dia todo na maioria dos casos) adapta o seu planejamento às necessidades de leituras manifestadas pela turma.

3- Análise dos dados

3.1. Retextualização discursivo-temática

No que se refere aos aspectos da retextualização discursivo-temática, na qual o sujeito ao re-contar insere os personagens num outro cenário, nos textos selecionados, percebe-se que um dos aspectos que chama a atenção é a retomada da personagem “tia” presente no texto-base Os Filhos do Boto, relacionando-se com o Boto. Essa atitude dos sujeitos evidencia uma tentativa talvez de sinalizar para a professora que recontam a lenda para atender, assim, à solicitação de uma atividade escolar. Passemos a analisar as outras maneiras como os educandos realizam a retextualização discursivo-temática em alguns textos.

3.1.1- Presença da intertextualidade

A intertextualidade serviu dentre outros aspectos para confirmarmos algumas hipóteses a respeito do uso que o educando faz do seu sistema lingüístico para planejar e efetivar o seu projeto do dizer, deixando marcas em suas produções escritas que sinalizam a presença das suas histórias de letramento e dos discursos elaborados junto às comunidades das quais participam, como passaremos a apresentar.

a) Narrativa policial

No texto [05], o personagem Boto é apresentado como um tarado e não como conquistador que não precisaria, portanto, fazer uso da força para ter uma mulher. Note-se também que nesta retextualização o personagem Boto é pluralizado - “andava muitos Botos por lá” - o que pode indicar a associação a bando (marginais) ou mesmo a freqüente ameaça que muitas crianças sofrem em nossa sociedade. Isso reflete, de certa maneira, a circulação do aluno pelo gênero narrativa policial, posto que apresenta algumas características desse gênero textual, tais como: a) localização do crime feito quase sempre às escondidas: -“legaram elas pra dentro do mato”-; b) caracterização dos personagens, conforme as suas ações: as escolhas lexicais de tarados, abusaram para se referir aos Botos. As mulheres são as vítimas, que se vêem envolvidas pelos marginais (Botos) -“Mas mão sabiam que eles eram Boto depois que elas foram saber que eles eram muitos tarados”-. Observe-se que o uso do operador argumentativo “Mas”, utilizado logo após o enunciado -“eles a gararam umas mulheres”-, serve para explicar que apesar de as mulheres terem permitido que os rapazes as agarrassem (atitude relevante numa conquista), elas não imaginavam que eles eram Botos; c) detalhes das ações: -“eles pegaram elas e legaram elas pra dentro do mato abusaram muitos dalas”.
 b) Os Contos de fadas


Entre os textos selecionados, tomemos alguns para mostrar indícios de como os educandos retomam, de alguma maneira, os contos de fadas. Estes indícios aparecem, ora referindo-se à progressão da narrativa dos contos de fadas, ora às ações atribuídas aos personagens típicos desses contos, contrapondo-se àqueles apresentados nos textos-base, ora estabelecendo relações com a situação comunicativa caracterizada como interação em sala de aula. No caso das relações com os contos de fadas, elas ocorreram, dentre outras maneiras a partir da progressão da narrativa, como por exemplo, na utilização da marca de circunstancialização temporal “Era uma vez” na narrativa do Boto (uma boa parte desses-11 de um total de 13). Esta marca, assim como “Feliz para sempre”, entre outras, serviram também como organizador textual e ajudaram na progressão dos textos, encaminhando o interlocutor de maneira a melhor imprimir coerência a esses textos.

A expressão “Era uma vez”, segundo Gomes-Santos (2000), serve como organizador textual, em função da tradição da narrativa oral, servindo, portanto, para orientar o interlocutor. Essa marca de circunstancialização foi reiterada, na maioria das vezes, pela marca de fechamento: “Felizes para sempre” ou expressões equivalentes.

As marcas dos contos, em que o aluno é convocado a recontar o gênero lenda, mostra a sua identidade letrada em relação aos contos de fadas, por exemplo, no texto [03], no qual a progressão da narrativa aparece nos três momentos: abertura “Era uma vez”; progressão “Um certo dia” e fechamento “ficaram felizes para sempre”. A relação estabelecida com os contos de fadas ocorre pelo uso do termo “princeza”, que remete aos frames castelo, realeza, componentes dos cenários dos contos de fadas. Observa-se também neste texto a utilização do operador argumentativo “mesmo”, atribuindo credibilidade à idéia de que a moça se apaixonou realmente pelo Boto, justificando uma quebra da expectativa por parte do interlocutor. Essa primeira construção de sentidos contrários ocorre, através de uma intertextualidade das diferenças (Sant’Anna, 1985 apud Bentes, 2003) às expectativas do enredo da lenda em questão, aproximando-se ao que Maingueneau (2005) define como “valor de subversão de um texto por outro texto”. Por conta disso, percebe-se que o educando demonstra certo indício de autoria16 por mesclar o conto de fadas com a lenda, dando outro encaminhamento ao personagem do Boto (antes, conquistava e abandonava. Agora, ele constitui família, seguindo todo um ritual), humanizando.

3.1.2- Presença da Interdiscursividade
a) Discurso masculino

Com relação aos discursos masculinos presentes em alguns textos que constituem o corpus que foi analisado, destacou-se o texto [09] pelo fato de ele deixar mais em evidência esse tipo de discurso. Deve-se levar em conta que esse texto foi produzido por uma dupla formada por meninas, durante a atividade nº 04, cujo comando era “Escolha um colega e construa uma história em Quadrinhos a partir da lenda em estudo”.

Nesta HQ há uma intertextualidade implícita com um discurso masculino percebido no seguinte enunciado: -“Ti engravidar”-. Este enunciado resume a clara intenção masculina que caracteriza o personagem do Boto. Acrescente-se a isso o encaminhamento dado pela leitura do título da história: “O Boto o igravidador de mulheres”, já sinalizando para que se construa a identidade de conquistador, que tem o claro objetivo de engravidar a moça. No entanto, há um ensaio na construção de um argumento/discurso feminino contrário presente nos enunciados: -“Mas quais são as suas itenções”-; -“O quer você está Perçando”-(no início) e -“Pocha vai mais, Devagar”-, indicando uma atitude em não aceitar passivamente a posição de mulher-objeto/submissa. Fala-se em ensaio de um discurso feminino porque na seqüência das ações, verifica-se que a moça, apesar de questionar a postura do Boto, acaba cedendo aos encantos dele.

O título deste texto encaminha a narrativa para que o leitor tenha a idéia de que o Boto só quer engravidar as mulheres com quem se envolve. Isso é reiterado pela inserção do verbo “ficar” em -“Oi gatinha que tal agente ficar hoje”-, tendo em vista que o sentido compartilhado pelos interlocutores é encontro envolvendo uma relação sexual.

b) Discurso feminino

Na HQ [20], observa-se através da tentativa de fuga do Boto em relação a Matinta, como ele sempre faz com as outras mulheres aliado ao fato de que a Matinta lhe deu uma surra (ele está todo marcado e isso provoca a admiração até de uma árvore (07) que testemunha a cena da tentativa de fuga). Entretanto, a personagem da Matinta não aceita essa iniciativa e o enlaça com um chicote. A posição social respaldada pelo repertório cultural dos interlocutores dá conta para que a sua relação com o Boto tenha um final feliz. A interdiscursivadade com o discurso feminino decorre justamente da não aceitação do abandono (ser tratada apenas como um objeto e depois ser desprezada).

O que nos chama a atenção neste texto são as escolhas lexicais efetuadas pelo aluno, por exemplo, no título “O natal do Boto e da Matinta” a forma nominal “natal” demonstra a relação com o contexto da atividade: a pesquisa foi realizada durante um período no qual estavam ocorrendo atividades relacionadas ao Natal. Isso mostra que o contexto da situação comunicativa mais imediata pode influenciar, de algum modo, na produção textual. Outro fato é de mesclar os personagens (Matinta/Boto), da utilização dos termos “gato”/”gata” e da expressão “me amarro” sinalizam, de certa forma a linguagem típica da faixa-etária dos sujeitos da pesquisa. Esse tipo de escolha expressa a posição do sujeito-autor, pois reacentua o enredo tratado a partir da sua percepção de mundo em relação à conquista e a forma de tratamento durante a conquista.

c) Crendices populares

No texto [10], há uma réplica do aluno, no sentido de adicionar o uso da crendice de que ao dormirmos no interior de uma determinada maneira: -“com o cabelo p/ fora da rede”-, consegue-se atrair a Matinta Perera. A utilização da forma verbal “me falaram” com a indeterminação do sujeito parece estar relacionado ao que Gomes-Santos (1999, p.150), chama de “enunciador universal, freqüente em relatos constituídos na tradição oral”, atribuindo maior credibilidade ao seu texto. Isso é relevante porque o aluno acredita que o seu interlocutor (professora-pesquisadora) compartilha desse conhecimento.

A utilização da pró-forma “nós” indica que o aluno, ao pluralizar, insere a idéia de que não é só com ele que pode acontecer, mas com o seu interlocutor também. Isso atribui um caráter universal ao seu texto. Essa troca para “nós” mostra esse propósito interlocutivo. A inserção do termo “fumaça” retoma o referente fumo apresentado no texto-base.

4- Considerações finais

O movimento observado durante a realização das atividades demonstra que os alunos, ora concordam e ampliam a tarefa escolar, ora a subvertem, motivados pelos seus propósitos interlocutivos, evidenciando o fato de que eles não têm uma atitude passiva diante dos textos (Bakthin, 1997). E ao se trabalhar o gênero lenda, isso não foi diferente, mesmo não sendo este gênero reconhecido ainda como um recurso de ensino. Aliás, apesar de os gêneros discursivos serem elencados como os objetos de ensino de Língua Materna e o texto como a unidade desse ensino e fazerem parte da abordagem enunciativa preconizada nos PCNs de Língua Materna, mais especificamente, no que se refere aos usos da linguagem, bem pouco são evidenciados em atividades práticas de sala de aula que utilizem esses gêneros, e quando o fazem é apenas para se trabalhar aspectos concernentes às regras da gramática normativa.

Implementando-se um ensino de LM levando-se em conta as perspectivas do letramento ideológico, a escola poderia exercer o seu papel de forma justo, eficiente e ética. Para isso, deverá utilizar o ensino da língua, colocando em palco estratégias discursivas relacionadas tanto à oralidade quanto à escrita, já que de fato o projeto de ensino de LM utilizado nas escolas é bastante excludente. Acrescente-se a isso o fato de que as pesquisas acadêmicas levam um bom tempo para chegarem à escola e isso dificulta a reflexão a respeito das práticas pedagógicas do ensino de Língua Portuguesa somado ao desprezo quase total do uso da oralidade no ambiente escolar.

Diante disso, o professor de Língua Materna deveria oportunizar aos alunos o uso de vários gêneros, fazendo com que esses alunos tivessem condições de refletir a respeito não só dos mecanismos lingüísticos envolvidos nesses textos, mas também dos propósitos discursivos norteadores dos mesmos numa dada interação, além de se levar em conta os usos que os alunos fazem da língua no seu cotidiano. Entretanto, deve-se considerar que mesmo as práticas docentes não sendo ainda as mais condizentes com as perspectivas dos gêneros discursivos, numa perspectiva dialógica da linguagem, assim como de letramento ideológico, não se pode reconhecê-las como culpa do professor. Deve-se ressaltar que há sim a necessidade de se investir na formação do professor, como enfatiza Kleiman (2001), pois esse profissional teria condições mais favoráveis de elaborar programas educacionais levando em consideração o conhecimento de mundo de seus alunos.

Percebeu-se também que o gênero lenda ainda tem seu valor nos dias de hoje, posto que a é lenda repassada de geração em geração pelos pais, tios, avós etc., predominantemente, no âmbito familiar, o que não ocorre nas escolas, como se observou na pesquisa realizada. Este gênero era trabalhado durante a Semana do Folclore, o que foi reforçado na maioria dos depoimentos dos professores e técnicos da escola. Entretanto, notou-se uma ótima receptividade por parte dos alunos, uma vez que eles procuraram participar de todas as etapas da proposta de pesquisa-ação com disposição e entusiasmo, reforçando, de certa forma, a necessidade desse resgate cultural em sala de aula.

ANEXOS

Texto [05]- O Boto tarado
Era uma vez num sitiu andava muitos Botos porlá eles a gararam umas mulheres mas Mas mão sabiam que eles eram Boto depois que elas foram saber que eles eram muitos tarados eles pegaram elas e legaram elas pra dentro do mato abusaram muitos dalas quando foi no outro dia elas tavam mortas.

Texto [20]- O natal do Boto e da Matinta
(02)FELIZ NATAL GATO
(03) FELIZ NATAL GATA
(04)ME AMARRO EM VOCÊ
(05)Nem tente fugir
(06)Peguei uma surra e vou pular..
(07)Ah!
(08)e foram Felizes Pra Sempre!
FIM

                                                      Texto [10]- A feiúra da Matintaperera

A matinta Perera ela vira dela assim....
A matinta Perera tem o cabelo tudo pra frente ela é muito feia, não dá para com para, ela gosta de fumaça, a meia-noite ela vira igual ao um pássaro e da um assobio muito forte ela é igual a uma bruxa, me falaram que se nós dormimos no interior com o cabelo p/ fora da rede atrai matinta Perera, suas unhas são grandes ela tem um chicote entre as unhas.

                                                    Texto [03]- A paixão do Boto para uma princeza

O Boto era muito a paixonadando há uma princesa e ela nunca dava nem uma bola para ele mais chegou um certo dia quela se apaixono por ele. Ela se apaixonou mesmo por ele e chegou um certo dia que ele pediu a mão dela em casamento eles se casaro tiveram filhos eles aproveitaram muito a vida inteira eles ficaram felizes para sempre.

                                             Texto [09]- O BOTO O IGRAVIDADOR DE MULHERES
oi gatinha que tal agente ficar hoje
tudo
Bem
Mas quais são as suas itenções
Ti engravidar
O quer você está Perçando
Você que dança comigo
Claro que sin
Pocha vai mais, Devagar

REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In:__________. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes. Pp. 277-326.
GOMES-SANTOS, Sandoval Nonato. Recontando histórias na escola: gêneros discursivos e produção da escrita. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
KLEIMAN, Angela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: _____ (org.). Significados do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2003. p. 15-61.
POSSENTI, Sírio. Indícios de autoria. In: Perspectiva, Florianópolis, v. 20, n. 01, p. 105-124, jan./jun. 2002.
RODRIGUES, Isabel C. França dos Santos, CUNHA, Maria das Graças Ferreira da. O Resgate das lendas em sala de aula.Monografia do curso de Especialização em Língua Portuguesa: uma abordagem textual. Orientadora: Profª Ana Lygia Cunha, Belém-Pa, 2003.
RODRIGUES, Isabel C. F. dos Santos. A Construção dos significados da escrita nas práticas escolares a partir de uma perspectiva dialógica da linguagem. Julho, 2004. UFPa (inédito).
_______________________________. A recepção do gênero lenda em sala de aula. Junho de 2005. UFPA. (inédito).
_______________________________. Retextualização e intertextualidade em textos de alunos de 5ª série do ensino fundamental dissertação. Agosto, 2006.