09/10/2010

I SELLI - I SEMINÁRIO DE LÍNGUAS E LITERATURAS: TESSITURAS, INTERAÇÕES E CONVERGÊNCIAS

Comunicação coordenada do dia 26/10/2010, das 15h40 – 16h50
Temática: Interação em sala de aula: instrumentos didáticos na aula de português
Coordenador: Profº Dr. José Anchieta de Oliveira Bentes (UFPA/Belém)
Participantes: Me. Rita Bentes, Esp. Rita Leal, Me. Helena Chaves, Me. Socorro Pastana; Dr. José Anchieta de Oliveira Bentes

Pretende-se nesta coordenada discutir o fenômeno da interação verbal e social que ocorre com o uso de diversos instrumentos semióticos e materiais. Os participantes analisam e formulam teorias sobre o trabalho docente, sobre a interação docente-discente e sobre a circulação dialógica que fornece ao discente o fundamento de linguagem que lhe permite colocar-se em relação com o outro. Os trabalhos da coordenada estão em torno do uso de materiais gráficos e de adesivos, com adolescentes com deficiências múltiplas; do uso da Carta de leitor, com adolescentes da Escola de aplicação da Universidade Federal do Pará; dos relatórios de estágios, com jovens da licenciatura em letras desta mesma universidade; das propostas de trabalho apresentadas por pesquisadores e professores a respeito da concepção de sequência didática e de avaliação formativa; e do trabalho com o conto regional, a propaganda impressa, o seminário escolar, a sinopse e o texto teatral, por parte da professora e alunos da Universidade Federal em uma atividade de oficina para alunos do Ensino Fundamental circunvizinhos desta Instituição de Ensino.
Palavras-chave: Interação; instrumentos didáticos; prática docente.


APROPRIAÇÃO DO GÊNERO CARTA DE LEITOR: UMA ABORDAGEM TEXTUAL-ENUNCIATIVA

Maria do Perpétuo Socorro Dias Pastana
(Escola de Aplicação – UFPA)

RESUMO
Discutimos neste trabalho as marcas linguísticas que assinalam três fenômenos de natureza textual-enunciativa, constitutivos dos modos com que os alunos buscam apropriar-se do gênero Carta de leitor, sobre o tema “voto nulo anula a eleição?”. O evento foi marcado pela leitura e discussão de artigos divulgados na mídia que provocaram a aprovação e a indignação de grande parte da sociedade brasileira. Levando em consideração a polêmica sobre o assunto, propusemos aos alunos que escrevessem uma carta apoiando ou criticando a posição defendida pelo autor de um dos textos, escolhendo-o para ser seu interlocutor. A análise das marcas linguísticas dos textos é feita considerando os seguintes fenômenos: i) a construção do posicionamento enunciativo; ii) a construção da textualidade; iii) a construção da argumentação. Mais especificamente, propomos demonstrar como os textos-discursos são instrumentos imprescindíveis para compreender de que lugares sociais falam os sujeitos desta pesquisa, como constituem a si e aos outros, e como articulam o seu dizer. Para tanto, a base teórica deste trabalho constitui-se dos postulados Bakthinianos e das orientações da abordagem do interacionismo sociodiscursivo. A tarefa que nos demos neste estudo consistiu em analisar os efeitos das marcas linguísticas usadas pelos alunos nas Cartas de Leitor, a fim de explorar a relação sujeito-linguagem a partir da consideração do texto escrito. Consideramos que as análises do movimento enunciativo ajudaram a desvelar os modos como os sujeitos-alunos localizam-se no conjunto de suas relações sociais, a partir das posições assumidas no texto, ora individualmente, ora ancoradas no grupo. Essas posições revelam, assim, o nível de amadurecimento do aluno que, mesmo preconizando mudanças, mostra-se influenciado pelo meio social. Daí configurar-se a predominância de um enunciador coletivo por meio das estratégias de uso de a gente, de nós, o que permite ao sujeito flutuar diante do que diz.
Palavras-chave: Gênero Carta de leitor; Produção textual; Interacionismo sociodiscursivo.


ADOLESCENTES E JOVENS COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: COM QUAIS INSTRUMENTOS DIDÁTICOS É POSSÍVEL TRABALHAR?
José Anchieta de Oliveira Bentes
(UEPA/SEMEC BELÉM)

RESUMO
Este estudo pretende demonstrar que adolescentes com deficiências múltiplas podem aprender utilizando instrumentos didáticos eficazes que considerem suas capacidades e desenvolvam suas potencialidades. Trata-se de um estudo de campo em que são usados materiais gráficos e adesivos para propiciar que três adolescentes, com dificuldades de locomoção e de escrita, possam demonstrar seus saberes e desenvolver potencialidades em sala de aula. A coleta de dados ocorreu durante os atendimentos do professor especializado aos alunos considerados como deficientes múltiplos, na própria escola, em um horário que antecede a entrada do turno da tarde, nos meses de agosto e setembro de 2010. O registro foi feito por meio de gravações e de um diário de bordo em que o próprio pesquisador interagia com os alunos na sala de aula, no momento do atendimento pedagógico especializado. Os resultados indicam ampla percepção de vocabulário, construindo frases complexas e entendimento das perguntas dos professores. Foi possível observar que o uso do recurso materiais gráficos foi facilitador da interação e serviram de instrumento para a produção de conhecimentos. Os participantes tornaram-se participantes da aula, indicando que possuem muitos conhecimentos prévios para participar efetivamente da aula, em contraste com a posição de que a escola deve desenvolver a escrita dessas pessoas. A dificuldade de vocalização pode ser superada se o professor ficar atento as falas dos alunos; o desenvolvimento escolar pode ocorrer por meio de uma avaliação que considere essa sua oralidade.
Palavras-chave: Deficiência múltipla; Instrumentos pedagógicos; Interação escolar


NA INTERAÇÃO COM TECNOLOGIAS MODERNAS, AS PRÁTICAS DOCENTES TRADICIONAIS EM CONSTANTE PROCESSO DE SEDIMENTAÇÃO
Maria Helena Rodrigues Chaves (UFPA)

RESUMO
Este trabalho propõe reflexões a respeito dos modos como o ensino de língua materna vem sendo implementado em escolas de ensino fundamental do interior do Pará, em decorrência, a nosso ver, das novas orientações curriculares (PCNs, LDB, novo ensino fundamental). Quais são os lugares que a língua portuguesa assume no espaço escolar a partir das concepções sociointeracionistas de linguagem, gramática, sujeito e ensino? Em que momento o velho e o novo se confundem, se rejeitam ou se camuflam? Quais são os lugares que professor e aprendiz ocupam nessa discussão? Nessa jornada interpretativa adotamos os conceitos bakhtinianos de linguagem e de gêneros do discurso; o conceito bourdieusiano de habitus, a partir da leitura de Hanks (2008) e de Bourdieu ele mesmo (2010), em que o autor discute a gênese dos conceitos de habitus e de campo no campo da teoria e da prática científica; os estudos de Rojo (2007), a respeito da formação de professores e dos modos de sedimentação das práticas pedagógicas; e os de Chaves (2008), em que se problematiza o ensino tradicional. Inscrevemo-nos, assim, entre os estudos de Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006) (2006), e, tomando a linguagem como objeto de estudo e dialogando com outras ciências afins, buscamos compreensão para os fenômenos sociais. Os dados que analisaremos derivam de relatórios de estágios de alunos de licenciatura em letras e foram constituídos em situação de cotidiano escolar, próximo do que André (1995) chama de “Etnografia da prática escolar” e apontam para o pressuposto de que entre as práticas tradicionais de ensino e as tecnologias inovadoras gesta-se um novo objeto de ensino, um novo ensinante e um novo aprendente, que não configuram o triângulo didático atual. Os pólos didáticos que interagem na escola atual subsistem em um espaço mais ou menos virtual, mutantes entre o velho e o novo, refratando as teorias modernas e sedimentando-as conforme os hábitos locais.
Palavras-chaves: objetos de ensino; trabalho docente; habitus; mudança


DIMENSÃO FORMATIVA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA: CONTRIBUIÇÃO PARA O ENSINO/APRENDIZAGEM DA LÍNGUA MATERNA
Rita de Cássia Macedo Leal (UFPA)

RESUMO: No âmbito do ensino do Português, projetos sob forte influência das teorias que levam em consideração o processo de interação, em particular as propostas construídas com base no dispositivo didático da sequência didática, proposto por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), multiplicaram-se, no Brasil. É justamente, o aumento no número desse tipo de projeto que chama a nossa atenção e justifica uma análise dessas propostas de intervenção em contexto escolar em contraponto com as propostas teóricas nas quais declaram se fundamentar. Nesse sentido pretendemos verificar em que medida as propostas de trabalho com os gêneros textuais apresentadas por pesquisadores/professores da linguagem dão relevância a dimensão formativa do procedimento. Nosso estudo está baseado na hipótese de que concepções de sequência didática e de avaliação formativa articuladas contribuem para o ensino/aprendizagem da língua materna e favorece o desenvolvimento das competências discursivas e linguageiras dos aprendentes.

PALAVRAS-CHAVE: Sequência Didática, Avaliação formativa, Ensino/aprendizagem do Português, Gêneros Textuais.


O TRABALHO DOCENTE NO ENSINO DE PORTUGUÊS: DA INTERAÇÃO DIDÁTICA AOS SABERES E INSTRUMENTOS MOBILIZADOS
Rita de Nazareth Souza Bentes (SEDUC/UEPA)

RESUMO
Esta comunicação apresenta um recorte da prática da professora, conjuntamente, com os alunos na disciplina Ensino-Aprendizagem em Português I, no 2º período de 2010, do Curso de Letras, da Universidade Federal do Pará. Tal experiência, oficinas de produção e compreensão de gêneros discursivos, apoiada pelo Projeto “Metendo a Mão na Massa”, para alunos do Ensino Fundamental circunvizinhos desta Instituição de Ensino, teve o objetivo de refletir sobre o trabalho docente no processo de ensino aprendizagem de gêneros discursivos, no contexto da aula de Português, buscando interpretar as formas de os docentes e os discentes focalizar o saber ensinável, o qual acontece por meio de projetos didáticos organizados em práticas de linguagem nas sequências didáticas. Este processo de ensino e aprendizagem efetiva-se com base nos diversos saberes e instrumentos tomados como discursivos e materiais, valorados e usados historicamente por estes sujeitos particulares. As trocas de saberes e usos encontram-se nos procedimentos didáticos dos ministrantes das oficinas assumindo o papel de docentes quando propõem aos alunos atividades de leitura, de escuta, produções orais e escritas destes textos, planejadas em módulos. A obtenção do corpus se deu por meio de gravações em vídeo, áudio, anotações durante a organização, a realização e a avaliação das oficinas. A análise dos dados nos permitiu revelar o modo como os docentes ensinam o conto regional, a propaganda impressa, o seminário escolar, a sinopse, e o texto teatral, sobretudo, por meio de diversos saberes e instrumentos didáticos mobilizados no processo do ensino.

Palavras-chave: Saberes Mobilizados; Sequências Didáticas; Interação Didática.

Comentários:
"O gênero carta de leitor se mostrou eficiente nesse assunto, principalmente, uma vez que um dos principais erros do aluno é deixar-se levar por sua opinião durante uma dissertação, tipo de texto onde uma das principais características é evitar usar a primeira pessoa do plural. Ótimo modo de utilizar o interacionismo sociodiscursivo numa produção textual.
Que estudo interessante o sobre adolescentes e jovens com deficiência múltipla! É triste como hoje, no século XXI, a psicopedagogia ainda tem dificuldade para entender a didática ideal para esses jovens especiais, muitas vezes dando preferência às crianças especiais. Se estudos como esse, que mostra como é simples ter uma boa interação escolar com esses alunos, fossem divulgados, muitos dos problemas em relação a eles seriam superados.
É essencial sabermos, como membros do corpo docente, que os métodos didáticos evoluem juntamente com os alunos e a sociedade. Para saber que evoluções são essas, nada melhor que estudar vários relatórios de diferentes perspectivas para finalmente entender as mudanças no habitus e nos objetos de ensino.
Para a aprendizagem da língua materna, um pouco de gramática decorativa não basta, ou continuaremos formando analfabetos funcionais. O essencial é o estudo de diversos gêneros textuais. Sabemos que a fusão entre concepções de sequência didática e de avaliação formativa contribuem para a plena aprendizagem da língua materna também.
Esse último tópico foi muito interessante também ao mostrar o modo que os docentes ensinam diversos elementos diferentes, valorizando saberes mobilizados e seguindo sequências didáticas, para assim obter uma melhor interação".
Graciete- 18 de outubro de 2010 15:14

Um comentário:

Graciete disse...

O gênero carta de leitor se mostrou eficiente nesse assunto, principalmente, uma vez que um dos principais erros do aluno é deixar-se levar por sua opinião durante uma dissertação, tipo de texto onde uma das principais características é evitar usar a primeira pessoa do plural. Ótimo modo de utilizar o interacionismo sociodiscursivo numa produção textual.
Que estudo interessante o sobre adolescentes e jovens com deficiência múltipla! É triste como hoje, no século XXI, a psicopedagogia ainda tem dificuldade para entender a didática ideal para esses jovens especiais, muitas vezes dando preferência às crianças especiais. Se estudos como esse, que mostra como é simples ter uma boa interação escolar com esses alunos, fossem divulgados, muitos dos problemas em relação a eles seriam superados.
É essencial sabermos, como membros do corpo docente, que os métodos didáticos evoluem juntamente com os alunos e a sociedade. Para saber que evoluções são essas, nada melhor que estudar vários relatórios de diferentes perspectivas para finalmente entender as mudanças no habitus e nos objetos de ensino.
Para a aprendizagem da língua materna, um pouco de gramática decorativa não basta, ou continuaremos formando analfabetos funcionais. O essencial é o estudo de diversos gêneros textuais. Sabemos que a fusão entre concepções de sequência didática e de avaliação formativa contribuem para a plena aprendizagem da língua materna também.
Esse último tópico foi muito interessante também ao mostrar o modo que os docentes ensinam diversos elementos diferentes, valorizando saberes mobilizados e seguindo sequências didáticas, para assim obter uma melhor interação.