27/11/2010

Um dia nos anos oitenta

Manhã, cedo
abrem-se janelas de sol
feixes de luz pelas frestas
na garganta da casa

Meio dia
de cada panela um cheiro
cada cheiro, um sabor
onde o dissabor?


Noite
constante a serra
pesada hora
o ritmo se fazendo coisa
ecoando pelos vãos dos longos quintais

ritmo do trabalho Sabará
mãos na massa marceneiro
nesta manhã que agora passa
neste trabalho sorrateiro

dona das horas dona Maria
viver já é graça
cada filho que nascia comadre
nova ressurreição da mãe

por isso, dizia a nega Julia Antonia
é preciso
re-inventar os campos de espera
pois sem memória caro Buñuel
não existe amor


Sandoval Nonato Gomes-Santos
(manhã de sábado de primavera, final de Novembro em São Paulo, 2010).

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