15/06/2010

A dinâmica das rodas de conversa

Caras Maria Helena e Rita Bentes,

1. Que alegria falar com vocês. E poder falar um pouco de como tem sido nosso "Círculo - Rodas de Conversas Bakhtiniana" . E torcer pra que essa nossa conversa possa ajudar voces a pensar um evento em que vocês estão apostando bastante. Fazemos assim em todos os eventos, mas alguns acabam nos frustrando, principalmente por quebrar a participação; por não acreditar em todos mas somente em alguns; por não permitir que todos falem mas somente alguns. Uma pena!

2. Vocês podem ver na nossa página notícias dos dois eventos: Rodas de 2008 e Rodas de 2009. Nossa página é www.gege.ufscar. br. Notem as pequenas, mas importantes mudanças que fizemos entre o primeiro e o segundo Círculos:
a) Mantivemos o número de 200 participantes. Neste ano também vamos manter este número de participantes e aumentar o número de Rodas, para que tenhamos um máximo de 30 participantes por Rodas, durante as três horas de conversas; Então certamente neste ano funcionarão ao mesmo tempo 07 [sete] Rodas ao mesmo tempo, com a mesma temática;
b) Esta foi uma inovação do ano passado: todas as Rodas conversam sobre o mesmo tema, no mesmo tempo. Assim tivemos três temas, conforme está no site. E cada Roda vai com as conversas pra onde seus conversadores decidirem levar.
c) Além dos dois coordenadores de cada Roda, ainda tivemos em cada uma delas dois secretários, que anotaram o que acharam que devia ser anotado, e tinham a incumbência de gravar as rodas [gravadores digital]. Na Roda de Encarramento estas duplas iam à frente pra relatar os eixos das conversas de cada Roda. Foi muito bom.
d) Também verão que no ano passado solicitamos que todo participante inscrito enviasse um texto com pensamentos provocados pelos eixos de discussão. Recebemos muitos textos. Eles fizeram todos pensarem antes sobre os temas.Eles foram disponibilizados no site, e também montamos o Caderno de textos e de anotações. Um cadernão com 420 páginas, sendo 400 páginas com os textos de cada um, e vinte páginas em branco no final pras anotações que cada um gostaria de fazer, pra ficar depois tudo guardado junto. Às vezes a gente anota coisas boas, mas perde. Dessa vez isso não aconteceu. E quando guardar o livro na prateleira, as anotações vão junto; deu pra notar que o nivel de participação [o que dizer e a qualidade do dito] foi muito superior ao do ano anterior.

Quanto ao funcionamento das Rodas:
a) É preciso acreditar que todos os participantes tem questões que interessam a todos, e devem ser ouvidos: "Eu quero te ouvir e quero que tu me ouças". Esse é nosso lema.
b) A palavra deve circular livremente, sem imposições, sem uma ordem prévia, sem cortes, sem forçação. Incentivar, falar gostoso; falar com sorrisos nos lábios, motivando a participação de todos, isso sim;
c) Criar um clima leva na sala, com todos muito calmos, falando tranquilos e serenos, em ritmo de conversa e não de comunicação científica, com aquela voz escandalosa, imperativa, estressada. Dispor num canto da sala [pode ser perto da porta de entrada] uma mesinha com café e água, de modo que cada um pode se levantar quando quiser e ir até lá se servir. Isso dá uma leveza ao evento, sem tirar seu ar sério demais. Ter uma pessoa que cuida do café. E que está na sala pra ajudar a qualquer necessidade. Seja o que for, é ele quem vai resolver. Com calma. Veja que todos árticipam, mesmo os coordenadores, os secretários e este ajudante geral. Todos estão lá pra conversar. Não há uma divisão tão específica de cargos. É só funcional.
d) Arrumar a sala em duas rodas de cadeiras: uma dentro com 14 ou 15 cadeiras. A outra fora com 25 ou 26. Assim as pessoas ficam mais perto umas das outras. Não encostar as cadeiras na parede. Ao contrário. A tendência é o centro. As pessoas passam por fora das cadeiras. Dai precisar deixar este espaço pra circulação. Se a sala for menor, colocar menos gente nos círculos. Pra não atulhar a sala de gente. Manter o clima leve.
e) A questão dos horários. Eles também mantém esta cara de calmaria. Não se faz uma sessão atrás da outra, tudo nas correiras. Nada disso. Começamos as 09 horas. Temos tempo pra conversar o tempo todo. As pessoas vão chegando e ficando por ai, conversando. As 9 horas começa e vai até o meio-dia. O almoço é outra Roda [de Almoço]. ele também é calmo. Nós do evento que pagamos o almoço de todos, pra que todos comam no mesmo lugar. E pra conversar. Tem uma música ao vivo calma, tranquila, na altura que não impede as conversas. E esta roda vai até as 15 horas. Conversar é o que importa. A outra Roda começa as 15 e vai até as 18 horas. A equipe toda tem que ter feito a lição de casa bem feita, pra estar lá calma, tranquila, como se não houvessem problemas. Nada de estar todo mundo agoniado, correndo, como se fosse um grande improviso. Tudo tem que estar muito bem arrumado, funcionando.
f) Temos em cada Roda dois Comentadores. Caras mais fortes na teoria bakhtiniana. Reconhecidos nacionalmente. Geraldi, Geraldo Tadeu, Freitas, Vianney, e outros que voces encontram lá nas listas. Praticamente mantivemos os mesmos nos dois anos. Foi bom. Tarefa deles: em algumas Rodas eles dão uma arrancada inicial, provocativa, levantando questões. Na maioria nem precisa pois o pessoal se inscreve logo, e tudo avança forte. Depois de uma fala de no máximo cinco minutos de um dos coordenadores da Roda, colocando questões, preparando a participação de todos, se ele notar que a coisa foi bem, abre inscrições pra inicio de conversas, e procura inscrever cinco conversadores. Cada um deles tem que fazer uma fala comprida, de mais ou menos 05 minutos. Uma fala com começo, meio e fim. E ninguém interrompe. Quando ele acaba não há comentários à sua fala. O coordenador logo chama o seguinte inscrito. Que faz sua fala. E assim sucessivamente. Quando acabar a lista dos inscritos, monta-se outra lista, perguntando quem quer falar. Ao chegar ao número de metade das falas, chama-se um comentador, pra fazer uma fala mais demorada [15 minutos] sistematizando o que foi dito, e dizendo coisas novas. Não é uma palestra. Ficar ligado no rumo da prosa, e ir além. Por isso ele foi chamado pra ser comentador. Por ser um cara reconhecidamente mais sabido que todos. Depois as conversas seguem, e ao faltar vinte minutos pra o tempo acabar, chama o outro comentador. E guarda uns cinco minutos pra o encerramento [agradecimento, chamamento de atenção pra grandes pontos, recadinhos etc.

Maria Helena e Rita, falei demais.
Agora é a vez de voces.
Voces devem pensar a dinâmica de uma inteiro. Com dois temas, digamos. Um pra manhã e outro pra tarde. Dividir em quantas Rodas for necessário, pra caber 30 pessoas por sala. Mais os dois coordenadores, os dois secretários, os dois comentadores e o ajudante geral. Que sejam dois temas bem distintos entre a manhã e a tarde. Senão o pessoal vai pensar que está dizendo a mesma coisa.
Chamar o trabalho de RODAS DE CONVERSA.
Fazer circular depois os relatórios.

Aguardo vocês pra novas conversas sobre estas questões.
Apenas começamos.

Miotello

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